sexta-feira, 2 de março de 2012

Política = Sujeira. É mesmo?

Márcio José de Almeida é um dos melhores seres humanos que conheço. Médico sanitarista, londrinense, dedica sua vida a melhorar a dos outros. Fomos companheiros de luta política nos anos 80, época em que ele se elegeu deputado estadual e eu fui seu assessor de gabinete.
Inteligência fulgurante, caráter irretocável, enorme capacidade de leitura da realidade e articulação política, o Márcio, além de política eleitoral e brilhante carreira universitária, deu uma imensa contribuição à saúde pública do País, tanto como teórico quanto com a mão na massa.  Em 2011, como suplente, assumiu uma cadeira de vereador em Londrina, da qual afastou-se agora para assumir um posto importante no governo estadual.
Na carta de renúncia que apresentou à mesa da Câmara daquela cidade no último dia 28 de fevereiro, ele faz uma citação que, em minha opinião, merece uma profunda reflexão de todos.
É que hoje em dia está na moda falar mal dos políticos. Por uma distorção difícil de explicar, nós todos somos meio que fascinados por coisas ruins, de modo que as notícias de corrupção e malfeitos dos políticos fazem o maior sucesso. Ninguém presta a menor atenção a algum eventual político honesto. E pasme você, eles existem. Eu até quero trabalhar com isso, um dia.
Do modo como é, que todo mundo só fala da parte ruim, fica generalizado que tudo é ruim. Daí vem o senso comum: política é suja, e todos os políticos são sujos. Afinal, quem é que viu em algum jornal, algum dia, um político limpo?
É daí que vem a importância da citação feita pelo Márcio. É da lavra de um amigo dele, o Professor Marco Aurélio Nogueira. E mostra, com brilho e solidez, o perigo dessa crença.
Ela diz:
“... política não é só o que fazem os bons e os maus políticos, mas uma atividade inerente a cada um de nós. Os políticos são intermediários, representantes, lideranças. Vivem e agem no interior de um sistema. A boa ou a má qualidade deles depende da qualidade dos que são por eles representados, dos valores que prevalecem e da armação institucional em que operam.”
E então o próprio Márcio pergunta: como ficaria a vida no dia em que, por hipótese, fosse liquidado o último político?”
Ele deixa que o Professor Marco Aurélio responda: “seria a entrada em cena da força no lugar do diálogo, da arrogância e da prepotência no lugar da tolerância, (...) do dogmatismo no lugar da Razão e do livre arbítrio.”
Pensem nisso.
Se concordarem, divulguem.
Eu sempre pensei que toda generalização é perigosa. Agora, penso isso mais do que nunca. Como não canso de pregar: a tudo é preciso aplicar senso crítico. Há, sim, políticos ruins, e eles são muitos. Mas será que a culpa é só deles? Por outro lado, não há políticos bons?
Como gerir uma sociedade sem política? Impossível. Por isso, como dizia outro filósofo, “ a tragédia dos que não gostam de política é serem governados pelos que gostam”.

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