sábado, 10 de março de 2012

O que é pior do que dinheiro no lixo?


Leio nos jornais que o Governador Beto Richa, discursando em Londrina, reiterou o incremento de investimentos em segurança pública. Alvíssaras.
Especificamente, entre outras coisas, declarou que vai aumentar o poderio aéreo das polícias, com novos helicópteros, e que vai acelerar a reativação dos módulos policiais em todo o Estado.
Essas coisas me fazem pensar.
Até 2002 ambas as coisas eram parte da política de segurança do Paraná. Então foram desativadas, porque o gestor de plantão delas desacreditava como forma de combate à criminalidade.
O único helicóptero que havia foi vendido, os módulos foram fechados. Se puxar pela memória, sou capaz de lembrar até os argumentos que foram utilizados para ambas as coisas.
Agora, com a troca de plantão, tudo volta.
Nada contra, vejam bem. Nem mesmo vou entrar no mérito se é este governador que está certo, ou se era o outro. Até porque não é esta a discussão que quero travar.
Minha intenção é levar as pessoas a pensar na completa ausência de sentido disso tudo.
O caso concreto que estou citando é apenas um exemplo. Um único mas emblemático exemplo, de um dos mais perfeitos sistemas de desperdício de dinheiro público existentes no mundo.
Costumamos urrar de indignação em face dos escândalos que todos os dias explodem nos jornais envolvendo os políticos e suas bandalheiras.
Pois eu não tenho muito receio de estar errado se afirmar que tudo isso não passa de fichinha diante do que se joga na lata do lixo porque governantes desativam projetos de seus antecessores exclusivamente por vaidade, politiquice eleitoreira ou mesmo – vá lá, porque também ocorre – convicção pessoal.
Nem mesmo esta última se justifica, minha gente!
O destino de toda a população não pode ficar na dependência da convicção única deste ou daquele, por melhor que ele seja!
E quando ele se for? Virá outro. Que pode ser tão bom quanto, mas pensar de forma diametralmente oposta!
Vai destruir tudo o que encontrar, e que custou uma fortuna para ser construído. E vai construir outras coisas no lugar, nas quais acredita, gastando outra fortuna, somente para, poucos anos depois, vê-las destruídas pelo plantonista seguinte.
E continuar o baile...
E digo mais ainda a vocês. Não se trata apenas de jogar o nosso rico dinheirinho fora. É pior ainda!
Costumo dizer que nenhum país do mundo, em nenhum momento da história, conseguiu conhecer uma combinação que desse certo entre resultados, em segurança pública, e curto prazo.
Quer dizer: se um dos gestores porventura acertar na veia, e construir políticas destinadas a realmente funcionar, elas serão desativadas, e substituídas por outras, justamente no momento em que começariam a dar seus melhores frutos, a produzir seus melhores resultados!
Dá pra aceitar uma coisa dessas?
Eu, cá de minha parte, não consigo.
E você?
Pois é.
Bom. Meu falecido pai costumava dizer, neste ponto da história: “Até aí, morreu o Neves”.
Isso significa, em outras palavras, que eu não contei novidade nenhuma. De certa forma todo mundo sabe disso, e vive indignado. O “x” da questão é o que fazer a respeito.
Pois eu tenho uma ideia, da qual tenho feito uma pregação incessante.
O nome dessa ideia é protagonismo popular.
Qual a principal razão pela qual o governo anterior simplesmente abandonou as políticas de segurança pública que herdara do antecessor? Exatamente a mesma razão pela qual o atual abandonou as que herdou dele.
Que razão é essa?
Ninguém se opôs.
O governante faz o que lhe dá na telha tanto no momento de construir sua própria política quanto no de destruir a dos outros.
Ora, o único dono da política que está sendo destruída é o que a sabedoria popular chama de “tigre morto” (alguém antes poderoso e que hoje não manda nada), e “tigre morto todo mundo chuta, sem nenhum medo”. Por que? Porque ele já não pode reagir.
Então, nenhuma reação acontece à destruição daquela política, independentemente de ela ser boa ou ruim.
Aliás, sequer existe um critério de avaliação de sua bondade ou ruindade, ou, mesmo, um avaliador credenciado.
O baile? Ah, este continua. E animado.
Nada disso seria assim – nada mesmo! – se a política tivesse mais donos, desde o momento de sua concepção e construção. Quais donos?
Seus financiadores e consumidores, ora, quem mais!?
A população!
Coloque a comunidade ombro a ombro com o Governo no debate das políticas da sua própria segurança; faça-a auxiliar a determinar os formatos, as prioridades, as maneiras de implementação; integre-a nos sistemas de avaliação do desempenho dos projetos, programas e ações; e consulte-a a respeito das medidas de correção dos rumos verificados.
Tenho certeza de que, sentindo-se proprietária e co-responsável pelos projetos, ela não silenciará, submissa, diante de atentados sumários contra eles. Uma vez madura dentro do processo, exigirá fazer-se ouvir por cada novo gestor de plantão a respeito das medidas que pretende tomar. E, lastreada na autoridade que lhe é única, e que lhe advém inclusive de sua própria e vívida experiência, opinará a favor da manutenção de algumas políticas, da extinção de outras, do aperfeiçoamento de outras.
E, certamente, contribuirá para o aprimoramento e a construção daquelas inéditas que forem trazidas pela nova gestão, até porque é dessa alternância que vive o próprio processo democrático, e, com ele, o aperfeiçoamento das instituições. Entre as quais, claro, também as da segurança.
Fácil? Claro que não.
Viram quando, acerca da comunidade, eu disse “madura dentro do processo”?
É, pois é, eu sei. Ela também não chegou a isso ainda.
Ou seja: o desafio é duplo. É preciso avançar com os dois atores da peça. Os governos precisam aprender a gerir em conjunto com a população, e esta, de seu lado, ainda necessita perceber que tem essa responsabilidade, que ela é indeclinável e inalienável, e, mais que tudo, frutífera.
Os dois caminhos são por demais espinhosos. Ambos os lados possuem culturas centenárias em sentido contrário.
Mas ao meu ver, não é possível continuar convivendo com as notícias que narrei no início desta conversa, sem fazer nada.
Se alguém tiver alguma ideia melhor, por favor avise.
Se não, mãos à obra.
Quanto mais nós formos, menos tempo levará.
E quanto antes começarmos, mais cedo terminaremos.
Eu estou tentando fazer minha parte. E, felizmente, já vejo tímidos mas animadores resultados.
E você?

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