quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Participação Popular na Gestão Pública

Prezados,

Permitam-me, hoje, falar um pouco de segurança pública em sentido mais amplo, a partir do que acontece aqui no meu cantinho.
Como diz aí embaixo, no meu perfil, sou um modesto estudioso dessa área, e atualmente “estou” gestor, nela, em São José dos Pinhais.
Como tal, é minha obrigação formular e desenvolver uma política de segurança para o município onde exerço essa função.
Procuro fazer isso desde o início, antes mesmo de tomar posse.
A política que estamos buscando aplicar está fundamentada em três grandes linhas mestras.
Quero abordar aqui uma delas. A participação popular.
Quem convive comigo no dia-a-dia sabe que para mim é quase como um mantra repetir que nenhum gestor ou mesmo grupo de gestores, por mais brilhante(s) que seja(m), por mais recursos de que disponha(m), obterá(ão) sucesso, sequer parcial, no que diz respeito à melhora em indicadores de violência e criminalidade, sem um participação decisiva e protagonista da comunidade.
             Penso essa participação tanto na formulação das políticas quanto na priorização dos projetos e programas, na sua implantação, na fiscalização e, ainda, no monitoramento e correção de rumos.
É, portanto, primordial conscientizá-la, mobilizá-la, organizá-la, engajá-la nesse combate.
Não se trata de tarefa fácil. Pelo contrário.
Ao longo dos tempos a população brasileira foi sempre submetida a decisões que são tomadas de cima para baixo, como se houvessem grupos “iluminados” que soubessem o que é melhor para todos.
No geral, decidiram sempre o que era melhor para eles próprios...
Os resultados, como se vê, não são nenhuma brastemp.
Entretanto, o uso do cachimbo entortou a boca. Não faz parte da cultura, do senso comum, dos brasileiros, agir em defesa de seus direitos. Na realidade, tão eficaz foi o sistema aplicado, que nós em geral descremos da possibilidade de que isso possa produzir algum resultado.
Então, o caminho é árduo, longo e difícil. Trata-se, antes de tudo, de um trabalho de politização. É preciso reverter uma consciência longamente solidificada, e quebrar paradigmas solidamente estabelecidos.
Há, todavia, que começar.
E isso estamos fazendo.
Fomentamos a criação, em São José dos Pinhais, de Conselhos Comunitários de Segurança. Hoje são 31, espalhados por toda a cidade, tanto na área urbana como na rural, uns mais atuantes, outros nem tanto.
Ei, dirá você, meu(minha) abnegado(a) leitor(a), isso aqui é um blog de debate, de troca de ideias, não de propaganda política.
É verdade. Tem razão. Não fique zangado(a). Até porque a intenção não é, de modo algum, fazer propaganda. Nem mesmo é de me gabar de nada.
A ideia é apenas celebrar um acontecimento a meu ver importantíssimo.
São 36 meses, hoje, em que estamos trabalhando nisso. Tem sido um desafio. Vitórias, derrotas, erros, acertos, altos, baixos.
Não são poucos os momentos em que se parece estar pregando no deserto. Algumas lideranças heróicas compreendem a mensagem, mergulham de cabeça na luta, mas não conseguem respaldo em sua própria comunidade, quase sempre cética, quando não cínica.
Mesmo cientes de que este é apenas o início de um processo difícil, às vezes o desânimo quase toma conta.
E então, é nesse momento exato que surge o episódio que reacende, brilhante, a esperança.
Os Conselhos Comunitários Municipais de Segurança Cidadã – COMUNSEG`s de São José dos Pinhais, através de seus representantes eleitos livremente, obtiveram uma audiência junto ao Comandante Geral da Polícia Militar do Paraná, Coronel Roberson Bondaruk.
Nela, realizada ontem, dia 28/02/2012, entregaram, através de documento maduro e bem redigido, as preocupações, ansiedades e reivindicações da comunidade sãojoseense, que ampla e legitimamente representavam.
Receberam imediata e proveitosa resposta. Providências no sentido de atender aos pleitos foram imediatamente tomadas.
Todo esse processo ocorreu por iniciativa própria, autônoma, das lideranças comunitárias, sem qualquer interferência ou tutela. A população, de forma pioneira, percebe que possui, e é capaz de utilizar, ferramentas capazes de conduzir à melhoria de sua própria vida.
Confesso que senti uma ponta de orgulho. É uma pequena semente lançada, mostrando grande potencial.
A força da comunidade é como a do elefante. Seus algozes seguram-no a um pequeno toco de madeira por meio de frágil barbante. Se soubesse seu poder, libertar-se-ia com o mais leve safanão.
É bem possível que, de volta a seus rincões, e cacifadas pelos resultados que obtiveram, as lideranças venham a contar com maior confiança de seus vizinhos. E que eles então passem a participar mais dos próprios Conselhos. Isso ocorrendo, será mais um pequeno passo em direção à mobilização geral.
Eu, pessoalmente, sonho com o dia em que essa mobilização chegar.
               Porque sei, de forma cristalina, que quando esse elefante se libertar, então estaremos muito mais próximos do Brasil que todos almejamos.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Meu Ponto de Vista - 3 - Cuba e os Diversos Aspectos da Liberdade (Parte VI)


          Dizia eu no capítulo anterior desta análise que, em nome de recuperar a dignidade de seu País, os revolucionários cubanos adotaram, logo que tomaram o poder, severas medidas de exceção.
Dizia também que sob o meu ponto de vista isso se justificava, na medida em que indispensável à consolidação da revolução, e que esta se propunha a ser um instrumento de eliminação das desigualdades e injustiças que infelicitavam o povo.
Disse ainda, e não por acaso, que a equidade almejada deve vir seja para o bem, seja ou para o mal.
Passados 50 anos, o que se vê é que ela foi alcançada, e nos dois sentidos.
Excetuando-se a falta de democracia (assunto do qual trataremos mais adiante), do que se acusa Cuba hoje?
Sugiro assistirem uma série de cinco reportagens levadas ao ar, semanas atrás, pelo Jornal da Band. Acho que está praticamente tudo ali. Eis os links, pra quem quiser ver (mas veja com as antenas ligadas, ok? Lembre-se, senso crítico em tudo que a grande mídia nos impinge; cuidado com a lavagem cerebral):
                                         Série Cuba 1
                                         Série Cuba 2
                                         Série Cuba 3
                                         Série Cuba 4
                                         Série Cuba 5
Então: tem engenheiro que precisa trabalhar como motorista de táxi; os salários são ínfimos; os carros são verdadeiros museus; as casas estão em estado deplorável; a comida é racionada; o consumo super-limitado; o único lazer é tomar sorvete, que mesmo assim não é lá essas coisas; e assim por diante.
De quem é a culpa?
Alguém tem dúvida? Do socialismo, claro! Da falta de liberdades, claro!
Eles não dizem, mas insinuam o tempo todo. Eles e toda a torcida midiática do Flamengo, neste último meio século. Todos os dias, horas e minutos. Martelam nossa cabeça incessantemente.
Os métodos que usam, os escrúpulos que (não) tem, bom, esses eu espero ter deixado bem claros na postagem que fiz dias atrás, aqui mesmo, neste blog, com o título “Lavagem Cerebral – Cuidado”.
Muito bem.
O tema desta minha catilinária toda é a liberdade. Pois é. Às vezes parece que a gente vai se esquecendo.
No entanto, exatamente agora é que chegamos a ela.
Lembram lá no início, quando eu disse que na minha época de comunista eu me indignava porque entendia que no capitalismo liberdade era um bem que se adquiria com dinheiro?
Pois bem. Essa é, na minha opinião, a chave para a pergunta que fiz no capítulo anterior. Liberdade e economia se cruzam, sim. E precisamente aí. Economia É dinheiro, e se você precisa dele pra comprar liberdade, então os dois estão casados!
Segundo nossa cultura dominante, os problemas atuais do povo cubano tem suas raízes na ausência de democracia e no sistema econômico socialista.
Digo eu a vocês que a questão da liberdade está intimamente envolvida em ambos os temas. Por isso é que do título da série se refere aos “diversos aspectos da liberdade”.
Como disse, vou tratar da questão da democracia mais tarde. Até porque essa é muito mais comum, todo mundo fala dela o tempo todo, e, no essencial, a verdade é que estamos de acordo, já que, de minha parte eu também acho que ela realmente está em falta na ilha, e que já passou da hora de arejar, e muito, o sistema político.
A questão da liberdade no que toca às carências econômicas enfrentadas pelo cidadão cubano comum, essa sim, é muito mais complicada do que parece.
Apontar o dedo para o socialismo é a coisa mais fácil, e principalmente, a mais conveniente para quem se arrepia até a medula só com o som da palavra, como é o caso das nossas elites, principalmente a do baronato midiático.
Entretanto, como dizia o poeta, quem sabe não seja interessante dar uma olhada “no avesso do avesso do avesso do avesso”?
Comecemos com uma coisa bem simples, sabida de todos, mas cuja importância é fingidamente ignorada.
Cuba é uma ilhota. Um pequenino pedaço de terra carente de praticamente todos os recursos naturais. Está há meio século bloqueada economicamente pela maior potência do planeta.
Não pode fazer negócio com absolutamente nenhuma empresa que possua capital norte-americano.
Não tem acesso a rigorosamente nada que seja produzido pelo Grande Irmão.
Durante um tempo (até 1989), enquanto ainda existia a bipolarização do mundo, o bloqueio econômico foi parcialmente compensado pelo União Soviética, que auxiliava como podia.
Hoje, 23 anos após a extinção desta última, o bloqueio permanece, tão implacável quanto no início, sufocando a economia cubana tanto quanto lhe é possível. E hoje sem que ela possa recorrer a qualquer compensação.
Vejam: é caso único no mundo.
Nenhum país jamais foi submetido a isso. A desculpa é falta de democracia.
           Conversa!
         A lista de países ditatoriais não bloqueados – e mesmo auxiliados – pelos Estados Unidos renderia um livro!
E nem se fale que foram apenas regimes identificados com eles. Vejam, por exemplo, o caso do Vietnã. País tão socialista quanto Cuba, protagonizou uma das mais emblemáticas e sangrentas guerras do Século XX, contra os próprios EUA.
Nada que impedisse que, anos depois, as relações diplomáticas e econômicas entre os dois países estivessem – como permanecem até hoje – totalmente normalizadas.
Então, começa por aí. Pelo bloqueio econômico norte-americano, que já dura mais de meio século, que é fortíssimo, que é implacável, e que cerceia de inúmeras maneiras a frágil economia cubana, sufocando-a e impedindo-a de crescer.
           Daí - mas não só daí - nasce a falta de bens, de alimentos, de riqueza. Daí surgem várias das agruras do cidadão cubano.
Não sou economista, não sei fazer análises detalhadas dos mecanismos como isso acontece, mas tenho certeza de que acontece, e de que há inúmeros especialistas que sabem explicar como.
Mas esse não é o único fator.
Há mais.
Veremos a seguir.

(continua... ainda!)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Lavagem Cerebral - Cuidado!

Vejam só como são as coisas.
Tenho postado aqui alguns textos sobre Cuba, cuja finalidade é analisar a questão da liberdade de um ângulo um pouco mais abrangente e isento.
Tudo começou porque nossa imprensa desencadeou – novamente – um verdadeiro bombardeio sobre a ilha caribenha por conta, entre outras, da falta de liberdade de expressão que campeia por lá.
Como veremos no dia em que minha análise terminar – e acreditem, um dia ela vai terminar... – meu objetivo é demonstrar que se de fato isso acontece (e acontece), nossa imprensa “livre” não tem moral alguma para armar essa bagunça toda e fingir-se de escandalizada com a situação.
Na verdade, setores dela deveriam ter é vergonha da forma descarada como se utilizam da liberdade de expressão que nossa democracia verdadeiramente lhes confere para distorcer os fatos e, com isso, manipular as consciências das pessoas, que passam a ver a realidade desfigurada por filtros dos mais variados calibres, tipos e tonalidades.
Aliás, a alturas tantas da minha análise de Cuba eu me referi a isso.
Recebi hoje um artigo que nos dá um exemplo, claro, aberto, e repugnante. Estamos todos expostos a isso, e se não tomarmos cuidado, nos tornaremos simples robôs, títeres cujos cordõezinhos são comandados pelos barões da mídia.
Por isso, recomendo, e com ênfase: nunca ponha de lado seu senso crítico. Analise com cuidado tudo o que ver ou ler. Contextualize. Conheça os antecedentes e as circunstâncias que envolvem os casos. Você é o melhor juiz. Mas para julgar, é preciso conhecer todos os fatos. Não deixe que o jornal, a TV, ou seja lá o que for, implante a opinião dele no teu cérebro, para depois você usá-la como se fosse a tua própria.
Pois bem.
O abuso está na “Folha de São Paulo” do dia 18 de fevereiro, este último sábado de carnaval. Tem lá um editorial chamado “Rafael Correa, Ditador”.
Para quem não sabe, Rafael Correa é o Presidente do Equador, eleito pelo povo daquele País duas vezes, em pleitos reconhecidos por toda a comunidade internacional como absolutamente limpos e democráticos.
Trata-se, no entanto, de um presidente “heterodoxo”. Não professa exatamente as ideias que o dono do jornalão de São Paulo aprova. Sabem como é, o tal capitalismo neo-liberal selvagem, disfarçado de globalização.
O cara ousa ser nacionalista, defender a soberania do País, os direitos da maioria mais humilde, essas coisas fora-de-moda, sabem?
Pois é. Nada pode deixar o baronato midiático mais fulo da vida.
Então, pua nele.
Nada que não seja seu (do jornalão) direito. Afinal, liberdade de expressão é isso, não é?
Mas que pelo menos se tenha a DECÊNCIA de fazê-lo de forma honesta. Combata-se ideias com ideias, mostre-se que o cara está errado, prove-se que sua (do jornalão) visão é que está certa. Mas não. Talvez por não serem capazes disso (ou por saberem que não estão tão certos assim), eles apelam pro vale-tudo. Tudo mesmo.
O que aconteceu?
Vamos lá.
A grande mídia do Equador, pelas mesmas razões óbvias, também não gosta do Presidente de lá. E desce o cacete nele, sistematicamente, desde o dia um.
Ocorre que, ao ver do Presidente, um determinado jornal, em um determinado dia, passou muito dos limites. Não vou entrar em detalhes sobre o que foi dito. Uma porque na verdade não importa, o que está em discussão é outra coisa, como veremos abaixo. E duas porque, como vocês já sabem, meus críticos querem que eu seja breve e, aqui, a brevidade já foi pras calendas.
O Rafael Correa, sentindo-se ofendido, injuriado, fez o que? O que você faria, no lugar dele? Iria à Justiça? Pois é. Foi exatamente o que ele fez.
Entregou a questão ao Poder Judiciário do País.
Este, em todas as instâncias, reconheceu que ele tinha razão, e condenou o jornal e o jornalista que escreveu as ofensas a se retratarem e a pagarem uma indenização por dano moral.
É por isso, minha gente, que a “Folha de São Paulo” chama o Rafael Correa de ditador.
Pode?
Peraí.
Ditador não é aquele cara que manda a polícia invadir e empastelar o jornal que o critica?
Pelo menos eu pensei que era...
Ir à Justiça quando nos ofendem não é exatamente o que há de mais democrático a fazer?
                 Não?
Desde quando? Pra quem?
Parece que pra nossa grande mídia o funcionamento das instituições nas finalidades para as quais foram constitucionalmente destinadas é ditadura!
Sabem o que diz, textualmente, o editorial da “Folha”?
Que em nome da liberdade de expressão o presidente deve agüentar quieto, sem reagir de modo algum, todas as críticas, mesmo que injustas.
Em outras palavras, o jornalão está dizendo que essa liberdade – a de expressão – não deve ter limites de espécie alguma.
Alguém pode imaginar isso? Uma liberdade sem limite?
Não se esqueçam, jamais, que uma liberdade – qualquer liberdade! – existe para ser usufruída por alguém, por uma pessoa.
Alguém admite um ser humano, vivendo em sociedade, podendo fazer o que bem entender, sem nenhum freio? Sem medo de nada?
Segundo o editorial em questão, tem um que pode: o jornalista. Esse santo intocável, esse ser de outro planeta, esse cidadão acima de todos os demais. Pode fazer o que quiser, pode dizer o que disser, de quem entender, como e quando entender, sem se preocupar.
Nada, nem ninguém, o atingirá. Pode até falar mal da impunidade, principalmente da dos políticos, mesmo sendo o maior beneficiário dela.
Tudo em nome da liberdade de expressão. Do jeito que fica, essa última parece uma coisa sacrossanta. Só que, na democracia, não existe nada que seja sacrossanto. Talvez a lei. E mesmo assim, olhe lá. A democracia é feita de pesos e contrapesos. Por isso é que se chama Estado de Direito.
Este só existe no pressuposto do Império da Lei.
Da Lei, senhores. Não dos jornais ou dos jornalistas.
Até eles devem se submeter a ela. Incrível, não? Achar que a lei se aplica aos jornalistas!
Pois é. A “Folha de São Paulo” acha que não. Ela diz que quando o Presidente do Equador pediu essa aplicação a um jornalista ele se mostrou um ditador.
Dias atrás, em uma postagem, informei que há alguns anos fiz algumas declarações na imprensa e que alguns advogados se sentiram ofendidos com elas. O que fizeram? Moveram um processo contra mim. É um direito deles. A justiça decidirá. Qual a diferença entre eu e o jornalista equatoriano? Qual a diferença entre eles e o Presidente do Equador?
Segundo as Constituições civilizadas do mundo, que unanimemente dispõem que todos são iguais perante a lei, nenhuma.
Já segundo a “Folha de São Paulo”, bom...talvez não seja bem assim.
De minha parte, não tenho vocação para macaquinho treinado.
Quando puder, vou gritar.
Desculpem, sei que fui extenso de novo, mas... que fazer?
Abraço.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Greve nas polícias?

          Desculpem a ausência prolongada. Problemas de ordem particular e o feriadão de carnaval me mantiveram afastado deste espaço por uns dias.
          Volto para falar da insatisfação da polícia. Serei breve. Tenho recebido algumas críticas pela extensão dos meus textos. Dizem que internet é agilidade, que blog é instante, que o sucesso do twitter é 140 caracteres, etc. E que eu escrevo textos muito longos.
          Sei lá. Sempre escrevi muito. Esse sou eu. Vou me policiar (sem trocadilho).
          Em todo o Brasil, as polícias estão inquietas. Lutam por melhorias salariais. A greve na Bahia foi uma forte campainha de alarme, seguida por outras, menores, em outros pontos do País.
          No Paraná, ambas as corporações estão em alerta. Vigílias, manifestações, demonstrações e discursos se sucedem. A greve paira no ar. O que pensar?
          Minha opinião é conhecida. Ao contrário de muitos, entendo que a polícia não é o único elemento componente das políticas de segurança pública. Mas sei que é absolutamente essencial em qualquer delas.
          Por isso, estou inteiramente convencido de que o aprimoramento de uma não ocorrerá nunca sem o da outra.
          Quer dizer: é preciso melhorar a polícia. Sempre e cada vez mais.
          Isso só pode começar de uma forma: pela valorização dela. Pense: a profissão de policial, além de ser uma das mais importantes para a própria sobrevivência da sociedade como tal, é também uma das mais estressantes, porque expõe seu ocupante a risco de vida diário.
          É inimaginável exigir qualidade, desempenho e aperfeiçoamento constante, deste profissional, sem que previamente seja demonstrado a ele o reconhecimento dessas circunstâncias.
          A valorização profissional é, portanto, a pedra fundamental de tudo. Sem ela, nada se pode cobrar, nada se pode obter.
           E muito há a cobrar. Muito mesmo. Um verdadeiro oceano.
          Mas a verdade óbvia é que a valorização é o ponto de partida, e ela se inicia por uma remuneração digna, que faça jus à importância da função e ao desgaste ao qual ela expõe o ser humano que a desempenha. Ser humano esse que, por óbvio, encontra-se por trás de todo e qualquer policial. Uma pessoa, afinal, com suas forças e fraquezas, com família para sustentar, filhos para criar, desejos, aspirações, frustrações e planos de vida. Como todos nós.
          Estou falando de uma reação em cadeia. Sem uma remuneração decente para as polícias, muito dificilmente se poderá pensar em segurança pública de qualidade.
          Portanto, Governador, mãos à obra. E tratos à bola.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Meu Ponto de Vista - 3 - Cuba e os Diversos Aspectos da Liberdade (Parte V)

Na frente interna, a consolidação da Revolução Cubana implicava em desarticular vários grupos de opositores a ela, que imediatamente após seu triunfo passaram a se organizar dentro do próprio País, a maior parte dos quais desde logo apoiada, material e logisticamente, pelos Estados Unidos.
Por se constituirem de setores cujos interesses e privilégios seriam imediatamente atingidos pela prevalência do caráter popular do movimento revolucionário, tais grupos estavam dispostos a quantas e quais manobras se fizessem necessárias para que ele não durasse no poder.
E dispunham de fortes meios para agir.
Os barbudos sabiam de tudo isso.
E sabiam mais. Sempre, e onde, no mundo inteiro, as elites privilegiadas se viram derrubadas ou mesmo seriamente ameaçadas, sua reação foi avassaladora.
Recuperadas, jamais se preocuparam com escrúpulos de qualquer espécie. Mataram, trucidaram, tantos quantos acharam necessário, torturaram, humilharam. Não mediram, nunca, nenhuma conseqüência.
A garantia deles, então, tinha que ser cortar o mal pela raiz.
Se tivessem contemplação, seriam sumariamente erradicados. E sem ela.
Agiram, portanto, com energia.
O processo era revolucionário, e como tal foi tratado.
Então, foram tomadas medidas de grande severidade.
A História mostra que todas as grandes revoluções que se sustentaram foram obrigadas a passar por uma transição turbulenta.
Não seria diferente na cubana.
Atos de exceção foram praticados, com sacrifícios de valores clássicos de democracia e liberdade.
Ao ver dos revolucionários, seu motivo era nobre. Devolver Cuba aos cubanos, fazer com que pudessem recuperar sua dignidade, melhorar o padrão e a qualidade de vida de todos.
Ao meu ver, isso também era nobre.
Porque, se fosse atingido, alcançar-se-ia alguma igualdade. E então, para o bem ou para o mal, as possibilidades não seriam distribuídas em razão do poder aquisitivo. A liberdade não seria uma mercadoria, comprável com dinheiro.
Mas que fique claro: no que me diz respeito, acho que isso vale somente enquanto dura o período de transição, ou seja, estritamente no período necessário à consolidação do regime revolucionário.
Superada essa etapa, com a institucionalização da nova ordem, suas vantagens devem se tornar evidentes, de forma que a maioria da população automaticamente a apoiará.
Até porque se não apoiar, ela (a nova ordem) não tem valor algum. Ou um regime – este ou qualquer outro! – existe para seu povo, ou não faz o menor sentido.
Se carecer de tolher liberdades básicas mesmo após estar amplamente consolidado, é porque teme o povo. E aí....
É por isso que, lá no início da minha análise, fui enfático ao dizer que reprovo a situação da ilha hoje, no que diz respeito a liberdades de ir e vir, e de expressão.
A Revolução Cubana não deveria mais necessitar disso.
Se o faz, das duas uma: ou é porque não sabe se o povo cubano a aprova, ou suas lideranças simplesmente se fossilizaram, deixaram que o uso do cachimbo entortasse a boca, se desligaram completamente dos mais comezinhos princípios de análise marxista da realidade. Em uma palavra, agarraram-se ao poder...
Não sei, sinceramente, qual das duas alternativas é pior, mas prefiro acreditar que esteja ocorrendo a segunda, porque essa pode ainda ter conserto.
Neste ponto, faço questão de fazer referência ao título desta série de postagens. Liberdade não é um conceito unifacetado. Pelo contrário. Tem muitas faces.
E é sobre elas, essas faces, como já diz seu título, que versa nosso pequeno e humilde trabalho. Portanto, se faz necessário que as examinemos na Cuba de hoje, mais de 50 anos depois da Revolução.
Há problemas com as liberdades, há problemas econômicos, e há, sim, pontos positivos em ambas as coisas, principalmente quando elas se cruzam. Como elas se cruzam?
Acho que este deve ser o tema do próximo e emocionante capítulo.
Até lá.

(continua...)

Cuba e o Ibope

          Pessoal,
          Tá pequeno o Ibope da minha série de posts sobre Cuba. Pouca gente leu. Fiquei preocupado. Será que está muito chato? Difícil de ler? Ou é porque não interessa mesmo? Tô ouvindo sugestões e críticas. Ainda tem um pedaço pra escrever, e eu estava crente que estava abafando. Vamos lá. Comentem. Critiquem, até pra que eu não cometa os mesmos erros no futuro.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O STF e a Lei Maria da Penha

            Há uma advogada em Curitiba de nome Priscilla Placha Sá. Qualquer conhecimento que eu porventura venha a ter com ela algum dia terá inevitavelmente começado com o pé esquerdo.
É que ela está me processando criminalmente. Isso, claro, não é exatamente bom.
Na verdade sequer a conheço pessoalmente.
Ocorre que alguns anos atrás, apoiado em provas robustas e concretas, declarei publicamente que o Exame da OAB, pelo qual os bacharéis em Direito são obrigados a passar para poder exercer sua profissão, sofria de uma enorme quantidade de falhas. Entre elas, muitas estavam na correção das provas.
Minhas afirmações eram genéricas, não citavam nomes, e não visavam a nenhuma pessoa em particular. Apenas apontavam fatos, a meu ver indiscutíveis. E, como disse, eu dispunha de provas irrefutáveis.
Inobstante, Drª Priscilla e mais alguns colegas que participavam da correção, sentiram-se pessoalmente ofendidos e me processaram por crime contra a honra. A meu ver indevidamente, já que sequer os conhecia, e não me referi a qualquer deles.
Não é de estranhar, portanto, que a princípio não nos gostemos mutuamente.
De qualquer modo, aqui e ali tenho percebido que ela adquiriu certa notoriedade. Talvez por ironia, têm aparecido intervenções públicas suas exatamente na mesma área em que eu atuo, fazendo com que, mesmo virtualmente, nossos caminhos voltem a se cruzar.
Vocês devem estar se perguntando o que diabos têm a ver com isso.
Nada. É só uma contextualização para o que eu vou informar a seguir.
Na Gazeta do Povo de hoje, 15/02/2012, a Drª Priscilla publicou um artigo de opinião, na página 2, que é de tirar o chapéu.
Recomendo a todos a leitura. Aborda a recente decisão do STF que definiu a constitucionalidade da Lei Maria da Penha, e declarou que a ação com base nela pode ser proposta e prosseguir mesmo sem representação ou queixa da vítima.
Em primeiro lugar, a escrita é primorosa. Dá gosto de ler. E o conteúdo é importantíssimo. Aborda a questão de um ponto-de-vista totalmente inesperado, inserindo um ingrediente crítico luminoso, e, no mínimo, inquietante.
A saída mais fácil é simplesmente aprovar a decisão do STF. Eu mesmo, até ler o artigo, tranquilamente a aprovava. É muito mais simples e cômodo. Ah, a comodidade... Nada como ela para conduzir ao caos.
Pois agora já não sei mais. Preciso refletir bastante.
É preciso conhecer, examinar e avaliar alternativas, sempre, e a todas as rotinas da vida. Aquela proposta pela Drª Priscilla ao tema em questão, na linha da Justiça Restaurativa, além de inteligente, crítica, destemidamente descolada dos lugares-comuns tão frequentes, é das mais intrigantes, porque corajosa e inovadora.
Invade e questiona uma situação com a qual estamos acostumados, e que, por isso mesmo, tendemos a assumir como natural e única. Por isso, a primeira reação é de espanto. Mas pare. Conte até 10. Dê uma segunda olhada. Reflita melhor.
No mínimo, você vai ficar com a pulga-atrás-da-orelha. Tenho certeza
Pode até, ao final, discordar. Mas precisa refletir, debater. E muito. Não vale se eximir. Todos temos a ver com isso. A democracia exige responsabilidades, e a violência doméstica é algo que afeta a todos nós. Se ficarmos simplesmente enclausurados, reclamando, achando ruim, mas não intervindo, tudo ficará mais lento e mais difícil.
Sei que Drª Priscilla, minha desafeta até aqui, provavelmente não lerá este comentário. No entanto, fica registrado que independentemente do problema que nos contrapôs lá atrás, desde agora, e por conta do brilhante texto que pode ser acessado pelo link abaixo, ela pode me contar entre seus admiradores.

O Silêncio das Marias


UPP- Unidade de Polícia Pacificadora

          Faz tempo que quero fazer este comentário.
          Hoje não tem como não conhecer as UPPs, instaladas nos territórios do Rio de Janeiro que antes eram dominados pelo crime organizado e foram recuperados pelo Estado. Então não vou chover no molhado.
          Unidadade de Polícia Pacificadora. Pomposo. Bonito. Chique, até.
          Como jogada de marketing, magistral. Afinal, embora pareça a descoberta da pólvora, a unidade não tem nada de novo. Nada mais é do que uma base de policiamento comunitário, já conhecida, reconhecida e aplicada no mundo inteiro.
          Seu grande mérito é romper com a política de segurança pública tradicional no Rio de Janeiro, de confronto, que pagava violência com violência, sempre mais do mesmo, incessantemente, sem levar a lugar algum, a não ser mais para o fundo do poço.
        Às vezes não é nada simples fazer o óbvio. E ali não era. Esse o grande mérito da UPP. E não é pouco, porque se trata de uma ruptura conceitual. Mesmo que problemas apareçam - e aparecerão, posso apostar - o principal muro foi derrubado.
        Enfim, quem sabe uma hora dessas eu possa aprofundar um pouco a análise das UPPs através de um "Meu Ponto de Vista", e trocarmos umas ideias mais amplas.
         Por enquanto, só quero dizer que neste momento, nesta postagem, meu objetivo é outro.
         O que venho adiando há tempo, mas não aguento mais, é questionar o nome da coisa.
         Sei, deu certo, é um enorme sucesso, case para estudo no mundo inteiro. O nome.
         Mas que é meio absurdo, lá isso não posso deixar de dizer que acho que é.
        
         AFINAL, ALGUÉM AÍ PODE ME DIZER, POR FAVOR, QUE OUTRA COISA PODE SER A POLÍCIA, A NÃO SER PACIFICADORA?

        Chamar uma polícia de pacificadora é redundância, porra! Será que ninguém percebeu isso?
        (Que tal uma base policial intitulada UPNP - Unidade de Polícia Não-Pacificadora? Se tem de um tipo é porque obrigatoriamente tem que ter de outro, não?)
        Alguém admite polícia com outra função?
        Qual?
        (Ei, não valem as distorções. Tá cheio de polícia fazendo coisas que passam longe da mais remota ideia de pacificação, concordo. Mas aí, o desafio é alguém me provar que alguma dessas coisas não seja um desvio de função, um erro, uma distorção, uma barbaridade).
        Se algum de vocês souber, ou souber de alguém que sabe, por favor, POR FAVOR, me digam. Sinceramente, se esse alguém tiver razão, conseguir vencer o desafio aí de cima, então eu vou ter que rever tudo o que estudei, vou ser obrigado a refazer todos os meus conceitos, vou ter que simplesmente dar meia-volta!
         Talvez tenha até mesmo que desistir dessa brincadeira, e, quem sabe, ir curtir a velhice pescando no Pantanal.
         Tálôco!
         Fui!
       

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Meu Ponto de Vista - 3 - Cuba e os Diversos Aspectos da Liberdade (Parte IV)


Bem. Eis-me de volta. Seguimos.
...
Na segunda metade da década de 1950, logo após a derrubada do governo democrático de Jacobo Arbenz, na Guatemala, pelo império norte-americano, um grupo de jovens idealistas cubanos de classe média iniciou uma conspiração para a derrubada do ditador de plantão na ilha, que na época chamava-se Fulgêncio Batista.
Mero títere dos EUA (que novidade!), como tantos outros, este, em especial, era particularmente corrupto e sanguinário.
Sob a inspiração e comando de Fidel Castro, então um advogado recém-formado, filho de um grande proprietário de terras, este grupo inicialmente reduzido terminou por liderar uma revolução armada que empolgou e envolveu, de forma avassaladora, até triunfar, no início de 1959, praticamente todos os setores populares daquele País.
O que poucos sabem, nos dias de hoje, é que a Revolução Cubana nada tinha, quando de sua vitória, de comunista ou mesmo socialista. Era um mero e simples movimento nacionalista democrático, cujo único objetivo consistia em livrar o país da corrupção e da tirania, a fim de oferecer ao povo (principalmente aos camponeses, que formavam sua maior parte e eram mantidos quase na mais absoluta miséria) uma vida um pouco mais digna.
Em uma palavra, utilizar os recursos do país em benefício da maioria de sua população, e não apenas para beneficiar uns poucos privilegiados e seus aliados estrangeiros.
Deixe-me contar uma coisa a vocês: sabiam (aposto que não) que o Partido Comunista Cubano da época (sim, ele existia, na clandestinidade, antes da Revolução) não apoiou a guerrilha de Fidel até praticamente os momentos finais? Pelo contrário, condenou-a. Sua direção entendia que naquele momento o melhor caminho para a derrubada de Batista era desarmado. Passava tão somente pelo debate político incessante.
Quando os “barbudos” chegaram ao poder, o único entre eles que tinha alguma noção teórica e – poucas – convicções comunistas era o argentino Ernesto “Che” Guevara.
Mas aos EUA isso pouco importava!
Imaginem se poderiam tolerar qualquer coisa menor do que a subserviência absoluta e total? Nunca!
Ainda mais em Cuba.
Se não suportavam rebeldia em nenhum país latino-americano, como imaginar que os EUA o fariam em relação ao seu “banheiro dos fundos”? Ali o “conserto” seria muito fácil. Era apenas uma questão de esmagar com o polegar, sem grande força.
E olhe que Fidel e sua turma tentaram. Várias vezes. Foram à América, afirmaram que nada tinham contra o Grande Irmão, que seu objetivo não era afrontá-lo, ao contrário, queriam cooperação em benefício de ambos os povos. Disseram que apenas lutavam pela soberania de seu País e pela elevação da qualidade de vida dos cubanos, sem querer prejudicar ninguém.
Adiantou? Nada.
Para os americanos, menos do que eles mandarem na ilha era inaceitável. E foi exatamente isso o que exigiram.
Ora, para os revolucionários cubanos isso era inegociável. Não seria para vocês também?
Para mim, com certeza, seria.
Pois bem. Eles para burros absolutamente não serviam. Pelo contrário, eram rapazes inteligentes e determinados. Sabiam perfeitamente bem o que acontecia com quem era latino-americano e ousava desafiar o gigante do norte.
Trataram, portanto, de se garantir.
               E foi graças a terem feito isso com grande competência que se tornaram o único movimento, em toda a história latino-americana, durante a Guerra Fria, que conseguiu resisitr à intervenção americana. Esta foi tentada, diga-se de passagem, inúmeras vezes e de inúmeras formas, das mais violentas às mais dissimuladas.
Os cubanos buscaram suas garantias em duas frentes. Uma na política externa, outra na interna.
Na primeira, consideraram que o mundo era divido em dois, lembram?
Tinha os EUA do lado de cá e a União Soviética do de lá. Adversários fidagais e inconciliáveis (comunismo X capitalismo), eram chamados “superpotências”. Mandavam e desmandavam em suas áreas de influência. Faziam um equilíbrio armado, chamado de "Guerra Fria", que mantinha o mundo com a respiração suspensa, sempre à beira de uma guerra nuclear.
Eles (os rapazes cubanos, claro) pensaram: “bom, se esse aqui não nos quer e, como sabemos, vai nos aniquilar rapidinho, quem sabe se não conseguimos algum apoio com aquele de lá?”
A verdade, minha gente, é que os Estados Unidos da América do Norte empurraram a Revolução Cubana para os braços abertos e acolhedores da sua arqui-inimiga União Soviética!
Desculpem a expressão meio vulgar, mas como ato de política externa, uma burrice cavalar!
Para os soviéticos, então, foi sopa no mel. Receberam os cubanos gostosamente!
Imagine um aliado incondicional praticamente colado, fazendo cócegas, na bunda do teu adversário!
E se apressaram a proteger o regime cubano. Assim, enfiaram uma ponta-de-lança em território inimigo, com enormes ganhos estratégicos e geopolíticos.
De quebra, ainda havia o ganho ideológico, que não tardou a aparecer.
A aproximação política e econômica com a URSS, que inevitavelmente se seguiu, rapidamente converteu os líderes cubanos às “maravilhas” do regime comunista, fazendo com que a ilha se transformasse em um bastião dele bem no meio do império capitalista.
               Foi aí que o bolo desandou de vez.
Falaremos sobre isso mais adiante.
               A segunda frente de combate para consolidação da Revolução era a interna.

(continua...)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Ufa!

        Dito isso, que estava engasgado, posso voltar ao tema de Cuba, o que farei a seguir. Sei que estou me alongando, mas meu estilo é esse mesmo. Além do mais, acho que não é possível compreender bem uma situação tão complexa senão mediante uma análise que faça a contextualização geral. Assim, quem não estiver interessado, como já disse, pule esta parte. Quem estiver, vamos em frente. Talvez o final já esteja meio à vista.

Sobre a "guerra" no Largo da Ordem no dia 05/02/2012


I – Carnaval da pequena-burguesia

Está no Rio de Janeiro o carnaval mais emblemático do Brasil. Lá ele nasce no morro, festa da periferia, alegria do povo. Só depois que desce para o asfalto é que agrega setores, digamos, mais aquinhoados.
Em outros lugares onde a folia faz sucesso o fenômeno se repete.
Aqui, na nossa Curitiba, nunca deu certo. Muita conversa de boteco já foi jogada fora, muito tutano já foi gasto, e até hoje ninguém conseguiu dar uma boa explicação.
E a verdade, verdade mesmo, é que fora da pequena-burguesia, ninguém nunca pareceu se importar muito com isso.
Deixem-me fazer um parêntesis meio introdutório, porque senão vou acabar sendo linchado sem merecer. O significado do termo pequena-burguesia, para efeitos dessa pequena e humilde análise, é cultural. Trata-se de um conjunto de atitudes e posições. Com ela não estou em absoluto querendo carimbar ninguém. Não estou fazendo referência a esta ou aquela pessoa em particular, muito embora sejam pessoas, evidentemente, que tomam as atitudes e posições pequeno-burguesas. Tomá-las não as faz pequeno-burguesas, mas somente a algumas de suas atitudes.  Ok? Vamos lá.
Dizia eu que o fato de o carnaval não ser muito bem sucedido em nossa capital nunca foi bem engolido pela pequena-burguesia. Digo “muito” bem-sucedido porque “um pouco” bem sucedido ele sempre foi. Um desfile de rua de escolas de samba, embora pobre, sem grande público ou prestígio, teima em fazer parte do calendário oficial da cidade.
Tanto lutou essa pequena-burguesia que conseguiu, finalmente, emplacar um “pré-carnaval”.
E nasceu este sucesso que é o bloco Garibaldis e Sacis.
Com o passar dos anos essa diversão da classe média foliona de Curitiba passou a atrair pessoas, digamos, menos aquinhoadas.
Notem a inversão. A única forma de carnaval que faz sucesso na “capital ecológica” nasceu na classe média e estendeu-se daí para a periferia.
Curioso, não?
Nem por isso, diga-se, menos meritório.
Ocorre porém, minha gente, que a pequena-burguesia fede. E muito.
Adiante falarei um pouco mais sobre isso.


II – A PM é a nossa Geni

É. Não adianta. Quem fez a fama deita na cama. É assim que se diz? Bom, vocês entenderam...
Tanto aprontou a Polícia Militar, Brasil afora, e por tanto tempo, que não tem mais jeito. Qualquer confusão que haja... é pau nela. Joga pedra na PM! Joga bosta na PM ! Ela é feita pra apanhar. Ela é boa de cuspir. A PM é a verdadeira Geni do Chico Buarque.
Não que não mereça. Também falarei um pouco mais sobre isso mais  adiante.
Por enquanto, deixem-me dizer a vocês uma coisa, com conhecimento de causa: na minha modesta opinião, a Polícia Militar do Paraná não poderia ter um comando melhor, sob qualquer ponto de vista, do que aquele que tem hoje. A dupla Bondarhuk-Cézar (comandante e sub) está, com léguas de lambuja, entre os melhores oficiais PMs que eu conheci nestes poucos anos de convivência na área.
Infelizmente (e eu próprio sou testemunha viva disso) não é do dia para a noite que, só por comandar uma corporação, você revira de ponta-cabeça a cultura inteira dela, nesse caso consolidada durante um século e meio.
Alguns poderão dizer que a declaração do comandante, saindo imediatamente em defesa da tropa, foi precipitada. Afinal, nem tinha investigado ainda. Típico. Corporativista. Nada mudou.
Recomendo cautela.
No meio militar existem razões que a razão civil desconhece. É preciso considerar recuos táticos, avanços estratégicos, e principalmente, condições de sustentação de posições.
Conheço bastante bem, e pessoalmente, os dois seres humanos dos quais estou falando. Tenho plena convicção de que o comando da PM não apóia nenhuma arbitrariedade.
O que não quer dizer que elas não tenham sido cometidas.
Até porque esse cacoete é dificílimo de vencer, não apenas na nossa PM, mas também em todas as outras.
Quem não se lembra da desocupação do Pinheirinho, no interior de São Paulo, apenas alguns dias atrás, em uma reintegração de posse? Quem não viu a imagem, que correu o mundo pelo YouTube, de uma pessoa com os dois braços erguidos em sinal de rendição, ser brutal e repetidamente agredida a golpes de cassetete, por um policial militar?
Pois é.
Anos e anos de serviço a regimes autoritários não passam em branco.
Então, a lição é clara: não provoquemos a PM! Ela simplesmente não consegue escalonar a força racionalmente, como manda a doutrina. Seu preparo ainda não chegou à fase de reagir com a devida moderação, sem levar as provocações que recebe para o lado emocional e pessoal.
E saibamos: mesmo quando esse dia chegar, mesmo quando agir corretamente em um episódio de controle de multidão – e tenhamos fé, isso ainda haverá de ocorrer! – a PM vai continuar levando pau, ainda por muito tempo.
Não tem jeito. Fez a fama, deitou na cama.


III – Todo mundo errou

É, o Secretário de Segurança saiu correndo em defesa da PM, e o comandante dela também. Nenhum dos dois tinha conhecimento suficiente do que ocorreu, pra fazer isso tão rápido.
Verdade.
Mas vocês repararam que ainda antes de eles fazerem isso o mundo inteiro já tinha descido o porrete nela? O porrete é geral e automático, vem instantâneo e de todo lado.
Será que esse mesmo mundo inteiro tinha mais conhecimento do que eles sobre o que tinha acontecido, e mais cedo ainda? Nada, é a mais pura “síndrome da Geni”!
Os jornais, então, são uma piada. Não dá para acreditar. Se você ler com atenção o mesmo deles, qualquer um, dia após dia, vai ter que rir. Tem um que se indignou desde o primeiro momento, falou tudo o que pode da PM, mostrou fotos de um policial agredindo covardemente um cidadão caído, e esbravejou que tudo aquilo era gratuito. Na sexta, dia 10, esse mesmo jornal exibiu na internet, sem nem ficar vermelho, um vídeo de arruaceiros montando uma barricada com barraquinhas da feira do Largo e atirando garrafas nos policiais.
À medida que os fatos vão aparecendo, revela-se que efetivamente, a PM foi provocada. Não agiu gratuitamente.
E reagiu.
Bom, já vimos acima o que acontece quando a PM reage. É confusão na certa.
O resultado é história. Todos conhecem.
Errou parte da multidão, ao provocar a PM. E, claro, errou a PM ao reagir emocionalmente, com evidente desproporcionalidade, totalmente descontrolada.


IV – Sem essa

Sem essa, portanto, de demonizar quem quer que seja.
“Ah, a culpa foi tua!”
“Não, foi tua”.
Foi de todos. De todos.
Sem essa, portanto, de virem os Garibaldis com mensagenzinhas de paz e amor, camisas brancas, posando de anjinhos diante de brucutus, como se não tivessem nada com isso.
Não são. E têm.
Até porque a multidão, incluindo os arruaceiros, bêbados ou não, drogados ou não, que guerrearam a PM, estava ali exclusivamente por causa do bloco. Ele, portanto, tem sua responsabilidade.
Os clubes de futebol não pagam pela bandalheira de suas torcidas? Os bares não são apenados pela algazarra de seus freqüentadores no entorno? Então porque é que os Garibaldis seriam diferentes?
Seria muito mais decente se assumissem a responsabilidade que lhes cabe, ao invés desse comportamento afetado, beautiful people, “paz e amor” de fancaria, de olhar para o outro lado, botar a culpa de tudo nos outros e fingir que só lhes cabe festejar.
É por isso que eu não canso de dizer que a pequena- burguesia fede.
Tálôco!
Os Garibaldis e Sacis também têm culpa no cartório, sim senhor. E, mais, têm responsabilidades também em um montão de outras coisas que acontecem o tempo todo na festa deles, que afetam um monte de gente que não tem nada a ver com a festa deles, e que eles também fingem que não estão nem aí.
Só porque não dá manchete de jornal, pessoal, não quer dizer que não acontece, viu?


V – Como fede a pequena-burguesia!

No correr da semana uma foliona do Garibaldis e Sacis publicou um pequeno artigo de opinião na Gazeta do Povo. Qualificou-se como advogada, e informou que freqüenta o bloco desde seu início. Pelo tom do artigo deduzo que seja uma socialite, ou algo parecido. Seu texto rescende intensamente à pequena-burguesia à qual me refiro.
Em outras palavras, diz que, no início, o bloco só congregava gente-bem. Hoje, “democratizou-se”. Usa a palavra como eufemismo para informar que agora ele convive com “os manos” (a palavra é dela). Acha “lindo” que isso aconteceu. Claro, não convidaria essas pessoas para uma festa (Deus-nos-livre) em sua casa, mas afinal, como diz a marchinha, a praça é do povo, então, vamos lá. Mas assegura, enfaticamente, que não devemos temer “os manos”.
Conclusão? Pau na PM. Merda na Geni.
Ouso supor que quando o carnaval mesmo chegar, e o povo-povo sair à Av. Cândido de Abreu para sua folia furreba, madame estará no litoral, onde, como boa foliona, acompanhará a Caiobanda, e/ou a Banda de Guaratuba, porque afinal ninguém é de ferro, e conviver com “os manos” um pouco já está muito bom. Talvez, quem sabe, na própria Sapucaí, por que não?
De verdade, gente, verdade mesmo, não tinha “manos”, no Largo, no domingo da guerra com a PM.
Eu estava lá.
Tinha arruaceiros. Alcoolizados, chapados de droga, descontrolados.
Uma enorme quantidade deles.
E foram eles a parcela – não pequena! – da multidão que provocou a polícia.
Os assim chamados “manos” são jovens de periferia, estigmatizados pela pequena-burguesia “foliona” e quetais, marginalizados de nossa sociedade e por isso adeptos de uma cultura e uma visão de mundo diferente e contestadora da nossa.
Na sua esmagadora maioria são apenas isso. Jovens, em grande parte revoltados pela situação em que nós, os privilegiados, os atiramos sem perspectiva de saída, mas cujas intenções não passam da simples contestação.
Ocorre que os delírios pequeno-burgueses tendem a estigmatizar e generalizar, colando na testa de todos eles, tão somente em razão de sua aparência diferente, um rótulo negativo e apavorante, como se todos não passassem de bandidos sanguinários, traficantes de drogas.
Eles possuem u´a maneira peculiar de se vestir e de se caracterizar que pode ser facilmente identificada. Como disse, eu estava lá. E não vi nenhum.
Viram como fede, a pequena-burguesia?
Pois é.
O que tinha era outro tipo de gente. Pobres e não pobres, vejam bem (olhaí o fedor, de novo). E repito. Estavam totalmente fora de controle, por causa do álcool e das drogas, que corriam livremente.
Não atiravam garrafas apenas contra as viaturas da PM. Faziam-no a esmo, a torto e a direito, inclusive sobre os automóveis estacionados ou que passavam pelas ruas adjacentes. O meu mesmo, foi vítima disso.
O que aconteceu foi uma simples tragédia anunciada.
Essas pessoas, já porque beberam demais e suas bexigas estão estourando e seus super-egos estão nocauteados, já porque são mal-educadas mesmo, além de tudo saem mijando por todos os recantos do Largo da Ordem e adjacências. São centenas delas a fazer do espaço público uma gigantesca latrina.
Já entrou em banheiro masculino de estádio de futebol em dia de Atletiba, perto da hora do final do jogo? Então multiplique mais ou menos por mil.
Quando a polícia diz que recebeu queixas de moradores, fala a verdade. Minha filha mesmo, falando em meu nome, foi uma que reclamou de som insuportavelmente alto e mijação na frente da casa onde há 60 anos mora minha mãe, de 85, ali dentro do “teatro de operações”.
Não é só a pequena-burguesia que fede. A urina que fica como resultado do pouco-se-me-dá dela também fede, e muito. Mas em outra dimensão. Esta física, sensorial. Mas igualmente insuportável.


VI – Os Sacis não têm nada com isso?

Têm. Como eu já disse, têm sim senhor. Eles fingem que não, mas é um erro.
Nossa socialite foliona já mencionada acima encerra seu artigo (e sua participação no meu) com uma citação puxada a ioruba (oba, olha eu aí entrando no clima, quem sabe eu vire um folião em breve – pra quem não sabe, ioruba é um idioma de origem africana que permeia toda aquela gíria baiana ligada ao carnaval de rua de Salvador), como convém a pessoas “in” na cultura baiana, outra que fornece um carnaval “pórreta” para a pequena-burguesia tupiniquim.
Como nem todos nós somos iniciados, elas nos faz o favor de informar que a citação equivale a dizer que “quem não tem competência não se estabelece”, em uma referência à incompetência da PM para lidar com a situação.
Engraçado.
Em uma manifestação anterior, no Facebook, no dia seguinte dos acontecimentos, ainda indignado com a arruaça e o comportamento alienado dos organizadores da festa, eu havia usado exatamente essa mesma expressão, mas dirigida a eles.
Penso que se vão juntar milhares de pessoas em uma praça pública, os Garibaldis e Sacis devem fornecer a elas, pelo menos, estrutura para que desfrutem da festa sem problemas.
No mínimo, devem oferecer uma quantidade suficiente de banheiros químicos para que as pessoas possam “se aliviar” civilizadamente.
Dizem eles que lhes faltam recursos.
Então, com todo o respeito, não façam a festa até amealhá-los.
Quem não tem competência não se estabelece.
Porque os outros, que não têm nada com isso, não têm nada com isso.
Até as pedras mais antigas do Largo da Ordem sabem que em qualquer sociedade civilizada o direito de um termina onde começa o do outro.  E que a cada direito corresponde um dever. O direito dos foliões é foliarem. Ok. E qual é o seu dever?
Existem pessoas que moram, que vivem, e que trabalham ali onde os Garibaldis e sua multidão vão uma vez por semana festejar.
Depois, eles todos vão embora para suas casas, felizes, curtidos na folia, purgados de seus pecados.
Deixam para trás o caos, a sujeira, a fedentina, a imundície.
Os moradores, esses ficam.
E são obrigados a conviver com o rastro imundo e insuportável deixado pela festa promovida pelos Garibaldis, que, como não canso de repetir, não estão nem aí. Fingem que não é com eles.
A própria Igreja da Ordem fechou suas portas a semana inteira, minha gente! Sabem lá vocês o que é isso?
Muitos desses moradores não são foliões. Aliás, a grande maioria não é.
Não participam da festa, sequer gostariam que ela estivesse lá.
Sentem-se, inclusive, incomodados por ela, enquanto ela dura.
É um direito deles, assim como é direito dos foliões, foliarem.
Onde fica o direito deles?
Onde fica o dever dos organizadores da festa?
O dever dos moradores é suportarem a festa.
E o dos festeiros?
O direito dos festeiros deveria terminar onde começa o dos moradores.         
Por que ninguém fala nisso?
Cadê a imprensa?


VII – Chega de hipocrisia

Chega de hipocrisia! Abaixo a pequena-burguesia!
Em 2013, para haver pré-carnaval no Largo da Ordem, que se exija da PM um planejamento rigoroso, um policiamento preventivo eficaz, e também um controle efetivo da higiene e da educação. Lembro a todos que no Rio de Janeiro, no carnaval, urinar em espaço público dá cadeia! E é a PM que vigia para que isso não aconteça, e prende quem não cumprir.
Por que não pode ser assim aqui também?
Em 2013, para haver pré-carnaval no Largo da Ordem, que se exija dos dirigentes do Bloco Garibaldis e Sacis que definam e assumam, por escrito, as suas responsabilidades. Eles não são apenas foliões descompromissados, simples festeiros, como querem parecer. São empreendedores. Organizam um evento com grande potencial explosivo, porque, mesmo sendo uma celebração de alegria e brincadeira, reúne milhares de pessoas durante horas, e no qual a bebida e a droga circulam livremente.
Devem garantir toda a estrutura da festa e se responsabilizar por ela, como, aliás, qualquer empreendedor de eventos o faz. Inclusive no que diz respeito a direitos e interesses de terceiros não participantes mas afetados por ela.
Caso contrário, tanto no que diz respeito à PM, que é responsável pela segurança, mesmo de eventos particulares, quando realizados em espaços públicos com permissão oficial, quanto no que diz respeito aos organizadores, minha opinião é a de que a Prefeitura de Curitiba deveria vetá-lo.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Que tal?

Em busca de novo visual.
Que tal este?

Desculpas

Desculpem a ausência de três dias. A correria está grande e, desde ontem, minha internet andava meio pífia. Várias pessoas têm me pedido comentários sobre os acontecimentos de domingo passado no Largo da Ordem envolvendo Garibaldis e Sacis e a Polícia Militar. Então, seja o que Deus quiser. Eles virão. Aguardem.

Meu Ponto de Vista – 3 – Cuba e os Diversos Aspectos da Liberdade (Parte III)

Em primeiro lugar, é preciso uma certa contextualização. Nos anos 50 do século passado, os Estados Unidos da América do Norte, nosso Grande Irmão, tratavam a América Latina como uma espécie de quintal dos fundos de sua casa. Na defesa de seus interesses geopolíticos e econômicos, e contando com a colaboração despudorada das pequenas elites locais, faziam dos países “ao sul do Rio Grande” (como se dizia então) o que bem entendiam, no mais aberto descaramento.
Não lhes fazia a menor diferença se os governos desses países fossem as mais cruéis ditaduras – aliás, preferiam que fosse assim. Na democracia é muito mais difícil manter o controle, dá trabalho, custa mais caro. Com mão-de-ferro é tudo mais fácil. Os EUA impuseram e sustentaram os tiranos mais sanguinários, em praticamente todos os países da região, sob a condição de que estes zelassem e protegessem seus (deles, EUA) interesses.
Deixem-me citar meia-dúzia que me vem à mente sem pensar muito: Stroessner, Pinochet, Batista, Castillo Armas, Duvalier (pai e filho), Médici & cia., Galtieri & cia. Há muitos outros cujos nomes felizmente não me lembro. Nada que não se resolva com cinco minutos de busca na internet.
Da mesma forma o Grande Irmão interveio, direta ou indiretamente, em todo e qualquer desses países (inclusive o Brasil, sabiam?, em 1964) onde surgisse o mais leve indício de indocilidade ante as ordens que de lá emanavam.
Não foram poucas, diga-se, as vezes em que essa intervenção se fez de forma até mesmo militar, armada.
É, para os que são mais novos isso pode parecer um despautério, mas o fato é que aconteceu. E em termos de história está logo ali. Faz pouquíssimo tempo. Sim, meninos, eu mesmo vi.
(Sei, sei, alguns dirão que lá, “do outro lado”, a União Soviética fazia o mesmo. É verdade. Fazia mesmo. Mas isso todos já sabemos há muito tempo, porque foi socado de forma incessante em nossa mente desde que nascemos. E o propósito aqui – lembram? – é restaurar a bilateralidade que nos foi sonegada. Certo? E esse lado, que estou comentando – o outro – sempre ficou meio escondidinho. Né?)
Ok. De volta ao tema.
A equação seria perfeita não fosse por um pequeno e insignificante detalhe: o povo. Quer dizer, a esmagadora maioria do povo dos países submetidos a ela. Este pagava o pato. E caro. Mantido na penúria, muitas vezes na miséria mesmo, ao povo cabia carregar o piano. Suar a camisa, recebendo em troca meras migalhas. E, mais ainda, fazer isso sem abrir o bico.
Bem.
Como já disse, cada vez que alguém, em algum lugar, ousava insurgir-se contra esse arranjo, lá vinha o porrete (exemplos há muitos; os mais notórios são Guatemala, 1954, Brasil, 10 anos depois, e Chile, 1973).
E Cuba.
Essa pequena ilha caribenha, pela grande proximidade com seu próprio território, era tratada pelos EUA como se verdadeiramente lhe pertencesse. Para ele, ali não era nem mesmo seu quintal; assemelhava-se mais a um banheiro da empregada. Cuba, para os americanos, era uma espécie de “América Latrina”.
Não vou aqui entrar em detalhes, porque o que já está muito longo ainda ficaria mais. Qualquer um pode dar uma busca na internet e ver a quantidade e a intensidade das humilhações às quais era submetido aquele povo. Isso sem falar na opressão e exploração, tradicionais em todos os outros.
...
Oh, vida... Vamos longe. Melhor encerrar por hoje. Não perca amanhã mais um pedaço.

(continua...)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Qual o futuro do PRONASCI?

          Deem uma olhada na matéria do link abaixo. É preocupante, mas ao mesmo tempo confirma o que temos escutado nos bastidores, isto é, que é só um freio de arrumação. Será? Para nós que gerenciamos Segurança Pública no Brasil, principalmente a nível municipal, será uma pena muito grande se ficar demonstrado que o Elio Gaspari, apesar de estar errado nas críticas que fez ao Pronasci, estiver certo quando diz que a presdente mandou "congelá-lo". Se o fez, é uma pena.  Esperemos que não. Esperemos que o que diz o Ministério se realize.

          Vale um pulinho lá.

          Despesas federais com segurança em 2011 - Contas Abertas

Meu Ponto de Vista - 3 - Cuba e os Diversos Aspectos da Liberdade (Parte II)

Pois é.
O tempo passou.
Hoje, oficialmente chegado à terceira idade, com o tempo de vida dobrado sobre aqueles tenros anos, não sou mais comunista.
Aliás, hoje sequer sei bem o que significa esta palavra. O socialismo real ruiu com o muro, levando junto minhas verdades e certezas. Além do mais, nada como a vivência do dia-a-dia para ensinar a realidade como ela de fato é. A experiência é tudo. Os índios é que sabiam das coisas.
Ficou, porém, intacta, dentro de mim, até hoje, a vontade de consertar o mundo.
Agora bem temperada pela noção de sua impossibilidade, ela converteu-se em algo mais realista. Contento-me em melhorá-lo tanto quanto estiver ao meu modesto alcance.
Permaneço prisioneiro, entretanto, como se ainda adolescente, de uma indomável indignação perante injustiças. Por isso, sempre que posso, assumo atitude militante ao lado dos excluídos.
Alguns diriam, pomposamente, que isso me mantém posicionado à esquerda do espectro ideológico. Outros, que esse tipo de rotulação está fora de moda.
De minha parte, acho que foi-se um invólucro inadequado, mas permaneceu a essência. E se me perdoam a confissão, orgulho-me disto.
Trata-se de um sentimento. Uma visão de mundo. Um traço de personalidade.
E o que tem essa baboseira toda a ver com o tema da conversa?
Simples. Dados os devidos descontos, consideradas as nuances que o tempo, a experiência e a maturidade me conferiram, ainda acredito que, no seu núcleo, a resposta que dava aos jornalistas, trinta anos atrás, não estava de todo errada.
Ei, não me entendam mal. Deixem-me esclarecer uma coisa, desde já, pra que não fique nenhum mal-entendido.
Vocês são testemunhas, mesmo pelos poucos textos que já publiquei aqui neste humilde blog, da defesa intransigente que faço da nossa recente democracia como caminho para aumentar cada vez mais as conquistas da cidadania brasileira. E, também, como celebro permanentemente tudo o que graças a ela já alcançamos.
Então, que fique claro: não sou cego nem hipócrita. Não apenas vejo como reprovo, censuro, e não aceito, de modo algum, as severas restrições às liberdades de expressão e de ir e vir, em Cuba.
Este primeiro ponto é pressuposto básico para que se possa abstrair todo e qualquer preconceito na tentativa de compreensão da análise global que faço neste Meu Ponto de Vista (e que é dividido em partes, porque será longo...).
Peço, então, que nos livremos todos desses dois vícios, a cegueira e a hipocrisia, e o façamos bilateralmente, quer dizer, do nosso sistema para o cubano, mas também do cubano para o nosso.
Ok?
Vamos lá.
Analisemos Cuba e sua Revolução, a partir de uma perspectiva histórica abrangente.
Façamo-lo, porém, mais adiante, no terceiro capítulo desta saga emocionante.

(continua...)