domingo, 5 de fevereiro de 2012

Meu Ponto de Vista - 3 - Cuba e os Diversos Aspectos da Liberdade (Parte I)


Eu sei, eu sei, eu sei. O propósito do blog é debater o Brasil. E Cuba fica fora. Ok. É verdade.
Mas mesmo assim, peço licença. Quem não estiver interessado, por favor pule esta parte.
Por outro lado, no mundo de hoje, tudo diz respeito a tudo. E de certo modo repercute aqui o que acontece em toda parte.
Por isso, me desculpem, mas acho que interessa, sim.
Então, vamos lá.
Houve um tempo da minha vida em que fui comunista. Acreditava, de forma idealista e até meio ingênua, que se poderia consertar o mundo mediante meia dúzia de medidas. Toda eram pré-definidas, vinham prontas em um pequeno pacote teórico-ideológico.
Exatamente nessa época veio a redemocratização do Brasil, e a legalização do PCB – Partido Comunista Brasileiro, ao qual eu era filiado. Membro de sua direção municipal em Curitiba, acabei ocupando algum espaço na imprensa. Afinal, os comunistas tinham sido os bodes expiatórios de todas as atrocidades que se haviam perpetrado no País até então, e éramos a grande novidade do cenário. Éramos, portanto, o objeto de toda a curiosidade.
À época, o Muro de Berlim ainda estava em pé, o Leste Europeu era “socialista”, e a Guerra Fria vivia seus últimos estertores. O mundo era bipolar, dividido entre Ocidente Capitalista e Oriente Comunista.
Estávamos no início da década de 1980.
Lembro-me de que nas entrevistas que então concedi, a grande questão era a liberdade. Tratava-se de consenso absoluto, entre todos os formadores de opinião, que nos países socialistas ela simplesmente não existia. E pronto. Isto, por si só, já bastava para que eles não prestassem. “Do lado de cá”, entretanto, não senhor. Aqui, a liberdade era plena, o que, a priori, nos absolvia completamente de tudo.
Era simples assim. Preto de um lado, branco de outro. Culpados e inocentes. Tudo resolvido.
Podíamos dormir em paz, nossas consciências tranquilas. Estávamos no lado certo. Éramos os mocinhos. Combatíamos o bom combate.
E aí, de repente, surgiam esses pentelhos comunistas, bem aqui, dizendo coisa diferente. Que história era essa? E vinham nos perguntar.
Entre outros, eu era um a responder. O problema era que nós éramos tão maniqueístas quanto eles. Havíamos sido submetidos a uma lavagem cerebral quase tão eficaz quanto. E para nós, o preto e o branco, o mocinho e o bandido, apenas mudavam de lado.
Eu estava cheio de certezas e verdades, todas elas tão absolutas quanto engessadas e absurdas.
Minha resposta no quesito liberdade, como todas as demais, vinha pronta e acabada. “Liberdade? Que liberdade? Liberdade não existe! Nos países capitalistas, liberdade nada mais é do que um bem que se compra com dinheiro!”.
E citava, petulante como costumam ser os jovens cheios de si, os carrinheiros pelos quais passava, todos os dias, sobre o viaduto Capanema, a caminho de casa. Maltrapilhos, precocemente envelhecidos, miseráveis, puxavam, com as mãos nuas, em carrinhos de madeira, enormes quantidades de papel, por longos trajetos para, ao fim, serem explorados por intermediários que lhes pagavam preços ínfimos e revendiam o papel com lucros estratosféricos.
Pedia, então, ao jornalista, que os entrevistasse, e perguntasse o que achavam da LIBERDADE que tinham para passar as férias, todo ano, nas Bahamas...
E exultava, triunfante.

(continua...)

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