sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Meu Ponto de Vista - 3 - Cuba e os Diversos Aspectos da Liberdade (Parte V)

Na frente interna, a consolidação da Revolução Cubana implicava em desarticular vários grupos de opositores a ela, que imediatamente após seu triunfo passaram a se organizar dentro do próprio País, a maior parte dos quais desde logo apoiada, material e logisticamente, pelos Estados Unidos.
Por se constituirem de setores cujos interesses e privilégios seriam imediatamente atingidos pela prevalência do caráter popular do movimento revolucionário, tais grupos estavam dispostos a quantas e quais manobras se fizessem necessárias para que ele não durasse no poder.
E dispunham de fortes meios para agir.
Os barbudos sabiam de tudo isso.
E sabiam mais. Sempre, e onde, no mundo inteiro, as elites privilegiadas se viram derrubadas ou mesmo seriamente ameaçadas, sua reação foi avassaladora.
Recuperadas, jamais se preocuparam com escrúpulos de qualquer espécie. Mataram, trucidaram, tantos quantos acharam necessário, torturaram, humilharam. Não mediram, nunca, nenhuma conseqüência.
A garantia deles, então, tinha que ser cortar o mal pela raiz.
Se tivessem contemplação, seriam sumariamente erradicados. E sem ela.
Agiram, portanto, com energia.
O processo era revolucionário, e como tal foi tratado.
Então, foram tomadas medidas de grande severidade.
A História mostra que todas as grandes revoluções que se sustentaram foram obrigadas a passar por uma transição turbulenta.
Não seria diferente na cubana.
Atos de exceção foram praticados, com sacrifícios de valores clássicos de democracia e liberdade.
Ao ver dos revolucionários, seu motivo era nobre. Devolver Cuba aos cubanos, fazer com que pudessem recuperar sua dignidade, melhorar o padrão e a qualidade de vida de todos.
Ao meu ver, isso também era nobre.
Porque, se fosse atingido, alcançar-se-ia alguma igualdade. E então, para o bem ou para o mal, as possibilidades não seriam distribuídas em razão do poder aquisitivo. A liberdade não seria uma mercadoria, comprável com dinheiro.
Mas que fique claro: no que me diz respeito, acho que isso vale somente enquanto dura o período de transição, ou seja, estritamente no período necessário à consolidação do regime revolucionário.
Superada essa etapa, com a institucionalização da nova ordem, suas vantagens devem se tornar evidentes, de forma que a maioria da população automaticamente a apoiará.
Até porque se não apoiar, ela (a nova ordem) não tem valor algum. Ou um regime – este ou qualquer outro! – existe para seu povo, ou não faz o menor sentido.
Se carecer de tolher liberdades básicas mesmo após estar amplamente consolidado, é porque teme o povo. E aí....
É por isso que, lá no início da minha análise, fui enfático ao dizer que reprovo a situação da ilha hoje, no que diz respeito a liberdades de ir e vir, e de expressão.
A Revolução Cubana não deveria mais necessitar disso.
Se o faz, das duas uma: ou é porque não sabe se o povo cubano a aprova, ou suas lideranças simplesmente se fossilizaram, deixaram que o uso do cachimbo entortasse a boca, se desligaram completamente dos mais comezinhos princípios de análise marxista da realidade. Em uma palavra, agarraram-se ao poder...
Não sei, sinceramente, qual das duas alternativas é pior, mas prefiro acreditar que esteja ocorrendo a segunda, porque essa pode ainda ter conserto.
Neste ponto, faço questão de fazer referência ao título desta série de postagens. Liberdade não é um conceito unifacetado. Pelo contrário. Tem muitas faces.
E é sobre elas, essas faces, como já diz seu título, que versa nosso pequeno e humilde trabalho. Portanto, se faz necessário que as examinemos na Cuba de hoje, mais de 50 anos depois da Revolução.
Há problemas com as liberdades, há problemas econômicos, e há, sim, pontos positivos em ambas as coisas, principalmente quando elas se cruzam. Como elas se cruzam?
Acho que este deve ser o tema do próximo e emocionante capítulo.
Até lá.

(continua...)

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