sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Lavagem Cerebral - Cuidado!

Vejam só como são as coisas.
Tenho postado aqui alguns textos sobre Cuba, cuja finalidade é analisar a questão da liberdade de um ângulo um pouco mais abrangente e isento.
Tudo começou porque nossa imprensa desencadeou – novamente – um verdadeiro bombardeio sobre a ilha caribenha por conta, entre outras, da falta de liberdade de expressão que campeia por lá.
Como veremos no dia em que minha análise terminar – e acreditem, um dia ela vai terminar... – meu objetivo é demonstrar que se de fato isso acontece (e acontece), nossa imprensa “livre” não tem moral alguma para armar essa bagunça toda e fingir-se de escandalizada com a situação.
Na verdade, setores dela deveriam ter é vergonha da forma descarada como se utilizam da liberdade de expressão que nossa democracia verdadeiramente lhes confere para distorcer os fatos e, com isso, manipular as consciências das pessoas, que passam a ver a realidade desfigurada por filtros dos mais variados calibres, tipos e tonalidades.
Aliás, a alturas tantas da minha análise de Cuba eu me referi a isso.
Recebi hoje um artigo que nos dá um exemplo, claro, aberto, e repugnante. Estamos todos expostos a isso, e se não tomarmos cuidado, nos tornaremos simples robôs, títeres cujos cordõezinhos são comandados pelos barões da mídia.
Por isso, recomendo, e com ênfase: nunca ponha de lado seu senso crítico. Analise com cuidado tudo o que ver ou ler. Contextualize. Conheça os antecedentes e as circunstâncias que envolvem os casos. Você é o melhor juiz. Mas para julgar, é preciso conhecer todos os fatos. Não deixe que o jornal, a TV, ou seja lá o que for, implante a opinião dele no teu cérebro, para depois você usá-la como se fosse a tua própria.
Pois bem.
O abuso está na “Folha de São Paulo” do dia 18 de fevereiro, este último sábado de carnaval. Tem lá um editorial chamado “Rafael Correa, Ditador”.
Para quem não sabe, Rafael Correa é o Presidente do Equador, eleito pelo povo daquele País duas vezes, em pleitos reconhecidos por toda a comunidade internacional como absolutamente limpos e democráticos.
Trata-se, no entanto, de um presidente “heterodoxo”. Não professa exatamente as ideias que o dono do jornalão de São Paulo aprova. Sabem como é, o tal capitalismo neo-liberal selvagem, disfarçado de globalização.
O cara ousa ser nacionalista, defender a soberania do País, os direitos da maioria mais humilde, essas coisas fora-de-moda, sabem?
Pois é. Nada pode deixar o baronato midiático mais fulo da vida.
Então, pua nele.
Nada que não seja seu (do jornalão) direito. Afinal, liberdade de expressão é isso, não é?
Mas que pelo menos se tenha a DECÊNCIA de fazê-lo de forma honesta. Combata-se ideias com ideias, mostre-se que o cara está errado, prove-se que sua (do jornalão) visão é que está certa. Mas não. Talvez por não serem capazes disso (ou por saberem que não estão tão certos assim), eles apelam pro vale-tudo. Tudo mesmo.
O que aconteceu?
Vamos lá.
A grande mídia do Equador, pelas mesmas razões óbvias, também não gosta do Presidente de lá. E desce o cacete nele, sistematicamente, desde o dia um.
Ocorre que, ao ver do Presidente, um determinado jornal, em um determinado dia, passou muito dos limites. Não vou entrar em detalhes sobre o que foi dito. Uma porque na verdade não importa, o que está em discussão é outra coisa, como veremos abaixo. E duas porque, como vocês já sabem, meus críticos querem que eu seja breve e, aqui, a brevidade já foi pras calendas.
O Rafael Correa, sentindo-se ofendido, injuriado, fez o que? O que você faria, no lugar dele? Iria à Justiça? Pois é. Foi exatamente o que ele fez.
Entregou a questão ao Poder Judiciário do País.
Este, em todas as instâncias, reconheceu que ele tinha razão, e condenou o jornal e o jornalista que escreveu as ofensas a se retratarem e a pagarem uma indenização por dano moral.
É por isso, minha gente, que a “Folha de São Paulo” chama o Rafael Correa de ditador.
Pode?
Peraí.
Ditador não é aquele cara que manda a polícia invadir e empastelar o jornal que o critica?
Pelo menos eu pensei que era...
Ir à Justiça quando nos ofendem não é exatamente o que há de mais democrático a fazer?
                 Não?
Desde quando? Pra quem?
Parece que pra nossa grande mídia o funcionamento das instituições nas finalidades para as quais foram constitucionalmente destinadas é ditadura!
Sabem o que diz, textualmente, o editorial da “Folha”?
Que em nome da liberdade de expressão o presidente deve agüentar quieto, sem reagir de modo algum, todas as críticas, mesmo que injustas.
Em outras palavras, o jornalão está dizendo que essa liberdade – a de expressão – não deve ter limites de espécie alguma.
Alguém pode imaginar isso? Uma liberdade sem limite?
Não se esqueçam, jamais, que uma liberdade – qualquer liberdade! – existe para ser usufruída por alguém, por uma pessoa.
Alguém admite um ser humano, vivendo em sociedade, podendo fazer o que bem entender, sem nenhum freio? Sem medo de nada?
Segundo o editorial em questão, tem um que pode: o jornalista. Esse santo intocável, esse ser de outro planeta, esse cidadão acima de todos os demais. Pode fazer o que quiser, pode dizer o que disser, de quem entender, como e quando entender, sem se preocupar.
Nada, nem ninguém, o atingirá. Pode até falar mal da impunidade, principalmente da dos políticos, mesmo sendo o maior beneficiário dela.
Tudo em nome da liberdade de expressão. Do jeito que fica, essa última parece uma coisa sacrossanta. Só que, na democracia, não existe nada que seja sacrossanto. Talvez a lei. E mesmo assim, olhe lá. A democracia é feita de pesos e contrapesos. Por isso é que se chama Estado de Direito.
Este só existe no pressuposto do Império da Lei.
Da Lei, senhores. Não dos jornais ou dos jornalistas.
Até eles devem se submeter a ela. Incrível, não? Achar que a lei se aplica aos jornalistas!
Pois é. A “Folha de São Paulo” acha que não. Ela diz que quando o Presidente do Equador pediu essa aplicação a um jornalista ele se mostrou um ditador.
Dias atrás, em uma postagem, informei que há alguns anos fiz algumas declarações na imprensa e que alguns advogados se sentiram ofendidos com elas. O que fizeram? Moveram um processo contra mim. É um direito deles. A justiça decidirá. Qual a diferença entre eu e o jornalista equatoriano? Qual a diferença entre eles e o Presidente do Equador?
Segundo as Constituições civilizadas do mundo, que unanimemente dispõem que todos são iguais perante a lei, nenhuma.
Já segundo a “Folha de São Paulo”, bom...talvez não seja bem assim.
De minha parte, não tenho vocação para macaquinho treinado.
Quando puder, vou gritar.
Desculpem, sei que fui extenso de novo, mas... que fazer?
Abraço.

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