domingo, 26 de fevereiro de 2012

Meu Ponto de Vista - 3 - Cuba e os Diversos Aspectos da Liberdade (Parte VI)


          Dizia eu no capítulo anterior desta análise que, em nome de recuperar a dignidade de seu País, os revolucionários cubanos adotaram, logo que tomaram o poder, severas medidas de exceção.
Dizia também que sob o meu ponto de vista isso se justificava, na medida em que indispensável à consolidação da revolução, e que esta se propunha a ser um instrumento de eliminação das desigualdades e injustiças que infelicitavam o povo.
Disse ainda, e não por acaso, que a equidade almejada deve vir seja para o bem, seja ou para o mal.
Passados 50 anos, o que se vê é que ela foi alcançada, e nos dois sentidos.
Excetuando-se a falta de democracia (assunto do qual trataremos mais adiante), do que se acusa Cuba hoje?
Sugiro assistirem uma série de cinco reportagens levadas ao ar, semanas atrás, pelo Jornal da Band. Acho que está praticamente tudo ali. Eis os links, pra quem quiser ver (mas veja com as antenas ligadas, ok? Lembre-se, senso crítico em tudo que a grande mídia nos impinge; cuidado com a lavagem cerebral):
                                         Série Cuba 1
                                         Série Cuba 2
                                         Série Cuba 3
                                         Série Cuba 4
                                         Série Cuba 5
Então: tem engenheiro que precisa trabalhar como motorista de táxi; os salários são ínfimos; os carros são verdadeiros museus; as casas estão em estado deplorável; a comida é racionada; o consumo super-limitado; o único lazer é tomar sorvete, que mesmo assim não é lá essas coisas; e assim por diante.
De quem é a culpa?
Alguém tem dúvida? Do socialismo, claro! Da falta de liberdades, claro!
Eles não dizem, mas insinuam o tempo todo. Eles e toda a torcida midiática do Flamengo, neste último meio século. Todos os dias, horas e minutos. Martelam nossa cabeça incessantemente.
Os métodos que usam, os escrúpulos que (não) tem, bom, esses eu espero ter deixado bem claros na postagem que fiz dias atrás, aqui mesmo, neste blog, com o título “Lavagem Cerebral – Cuidado”.
Muito bem.
O tema desta minha catilinária toda é a liberdade. Pois é. Às vezes parece que a gente vai se esquecendo.
No entanto, exatamente agora é que chegamos a ela.
Lembram lá no início, quando eu disse que na minha época de comunista eu me indignava porque entendia que no capitalismo liberdade era um bem que se adquiria com dinheiro?
Pois bem. Essa é, na minha opinião, a chave para a pergunta que fiz no capítulo anterior. Liberdade e economia se cruzam, sim. E precisamente aí. Economia É dinheiro, e se você precisa dele pra comprar liberdade, então os dois estão casados!
Segundo nossa cultura dominante, os problemas atuais do povo cubano tem suas raízes na ausência de democracia e no sistema econômico socialista.
Digo eu a vocês que a questão da liberdade está intimamente envolvida em ambos os temas. Por isso é que do título da série se refere aos “diversos aspectos da liberdade”.
Como disse, vou tratar da questão da democracia mais tarde. Até porque essa é muito mais comum, todo mundo fala dela o tempo todo, e, no essencial, a verdade é que estamos de acordo, já que, de minha parte eu também acho que ela realmente está em falta na ilha, e que já passou da hora de arejar, e muito, o sistema político.
A questão da liberdade no que toca às carências econômicas enfrentadas pelo cidadão cubano comum, essa sim, é muito mais complicada do que parece.
Apontar o dedo para o socialismo é a coisa mais fácil, e principalmente, a mais conveniente para quem se arrepia até a medula só com o som da palavra, como é o caso das nossas elites, principalmente a do baronato midiático.
Entretanto, como dizia o poeta, quem sabe não seja interessante dar uma olhada “no avesso do avesso do avesso do avesso”?
Comecemos com uma coisa bem simples, sabida de todos, mas cuja importância é fingidamente ignorada.
Cuba é uma ilhota. Um pequenino pedaço de terra carente de praticamente todos os recursos naturais. Está há meio século bloqueada economicamente pela maior potência do planeta.
Não pode fazer negócio com absolutamente nenhuma empresa que possua capital norte-americano.
Não tem acesso a rigorosamente nada que seja produzido pelo Grande Irmão.
Durante um tempo (até 1989), enquanto ainda existia a bipolarização do mundo, o bloqueio econômico foi parcialmente compensado pelo União Soviética, que auxiliava como podia.
Hoje, 23 anos após a extinção desta última, o bloqueio permanece, tão implacável quanto no início, sufocando a economia cubana tanto quanto lhe é possível. E hoje sem que ela possa recorrer a qualquer compensação.
Vejam: é caso único no mundo.
Nenhum país jamais foi submetido a isso. A desculpa é falta de democracia.
           Conversa!
         A lista de países ditatoriais não bloqueados – e mesmo auxiliados – pelos Estados Unidos renderia um livro!
E nem se fale que foram apenas regimes identificados com eles. Vejam, por exemplo, o caso do Vietnã. País tão socialista quanto Cuba, protagonizou uma das mais emblemáticas e sangrentas guerras do Século XX, contra os próprios EUA.
Nada que impedisse que, anos depois, as relações diplomáticas e econômicas entre os dois países estivessem – como permanecem até hoje – totalmente normalizadas.
Então, começa por aí. Pelo bloqueio econômico norte-americano, que já dura mais de meio século, que é fortíssimo, que é implacável, e que cerceia de inúmeras maneiras a frágil economia cubana, sufocando-a e impedindo-a de crescer.
           Daí - mas não só daí - nasce a falta de bens, de alimentos, de riqueza. Daí surgem várias das agruras do cidadão cubano.
Não sou economista, não sei fazer análises detalhadas dos mecanismos como isso acontece, mas tenho certeza de que acontece, e de que há inúmeros especialistas que sabem explicar como.
Mas esse não é o único fator.
Há mais.
Veremos a seguir.

(continua... ainda!)

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