quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ah!... Esse nosso Brasil! (Parte III)

Muito bem.
Nos dois primeiros capítulos dessa pequena reflexão em voz muito baixa, tentei fazer uma análise acerca da briga que tomou conta de alguns setores do país, de forma polarizada.
Conforme vimos, além de ser uma disputa entre militantes contra e a favor do governo (representados, conforme o lado, por “contra o ‘mensalão’” e “a favor da CPI do Cachoeira” ou vice-versa), ela envolve uma questão de alta relevância histórica, que é o papel e os limites (se existem) da imprensa em uma sociedade verdadeiramente democrática.
Esta última faceta não ganha repercussão maior porque se trava apenas através de blogs de menor alcance.
A grande imprensa, aquela que possui o poder de moldar amplos setores da opinião pública, no geral criou uma espécie de círculo de silêncio dentro do qual busca manter a intocabilidade da qual até aqui tem desfrutado.
Repito: toda a grande imprensa criou uma cortina de aço para blindar a revista Veja e poupá-la de responder pelas barbaridades escandalosas e escancaradas que fez em conluio – isso mesmo, conluio! – com o bandido Cachoeira.
(Alô, alô, navegantes, antes que me rotulem: como em tudo nessa vida, neste caso também tenho lado: sou a favor de a CPI ir a fundo, porque a maracutaia envolvendo amplos setores da elite brasileira está absolutamente na cara! Isto não quer dizer que não sou um ornitorrinco! Não acho o mensalão, a priori, uma “farsa”! E nem o contrário. Sou a favor de que o STF decida. E logo, com autonomia e isenção. E que fique claro: mesmo reconhecendo enormes avanços para o Brasil durante o Governo Lula, estou convicto de que no quesito moralidade ele foi péssimo, com a permissividade alcançando níveis inéditos; e isso não pode e não deve ser deixado pra lá).
Pois bem.
Ocorre que, aqui e ali, ela (a grande imprensa) quebra sua estratégia. Então, o círculo (de silêncio) se rompe, e o leviatã desfere agudas e momentâneas ofensivas para, em seguida, calar-se novamente.
Para conferir maior força ao ataque, escolhe cuidadosamente seus porta-vozes entre aqueles jornalistas e intelectuais de maior nomeada.
Quer com isso passar a impressão de que é a opinião pública quem fala. Uma distorção, claro, como outras tantas.
O espantoso é o nome dos que se prestam ao papel. Claro que o engodo prospera em relação às pessoas que não atentam para esse contexto todo, no qual os comentários se inserem. Entretanto, para quem analisa com um pouquinho mais de profundidade, ele é de um óbvio ululante.
Quero falar sobre dois casos especialmente lamentáveis: Demétrio Magnoli e Dora Kramer.
O primeiro figura entre os grandes intelectuais do País.
Sociólogo, geógrafo humano, comentarista consagrado da imprensa escrita e televisiva, autor de inúmeros livros e artigos, conquistou respeito em alguns círculos do pensamento brasileiro.
Atrevo-me, porém, daqui da minha humilde insignificância, a vislumbrar nos pés desse gigante alarmantes indícios de barro.
Tempos atrás li artigo de sua lavra no qual já dava sinais de pensamento bastante retrógrado. Para meu espanto, é contrário ao desarmamento. Fiquei chocado porque, como todos sabem, considero essa uma posição obscurantista, indigna de alguém com tantas luzes.
Na época, em artigo que publiquei sobre o tema, fiz velada referência crítica à postura do mencionado intelectual. E rebati fundamentadamente sua posição.
Pois não é que agora me vem ele a público para defender, com alucinante parcialidade, a revista Veja e seu editor chefe Policarpo Junior, no episódio de promiscuidade explícita com o bicheiro??!!
E o faz da forma mais rastaquera! Recorre ao velho e manjado estratagema de tentar desfazer a acusação através da desqualificação do acusador!
Saiu também na Gazeta do Povo. Eis o link, para quem quiser ler:
Demétrio Magnoli - Os Bons Companheiros
             Não vou aqui defender este ou aquele, pessoalmente atacado pelo articulista, até porque não recebi procuração de nenhum deles para isso. O que se discute não é se são - ou foram outrora - bons ou ruins, mas se o que dizem sobre o tema em discussão tem ou não tem fundamento.
              Atenho-me, portanto, exclusivamente a isso.
Minha gente: até as pedras que rolam pelas ruas da Praça dos Três Poderes, em Brasília, sabem o quanto é indefensável a posição do Sr. Policarpo Jr. e da revista Veja. Dizer que a relação deles com o bandido Cachoeira era meramente a de jornalista-fonte e obedecia a um mínimo da ética jornalística significa uma distorção bárbara. São dois pesos e duas medidas, da forma mais obscena! Por menos, muito menos, a própria Veja reduziria a mil pedacinhos um político qualquer que lhe fosse desafeto.
No entanto é exatamente isso o que faz o Sr. Magnoli! O mesmo que acha que proibir o cidadão comum de andar armado é restringir-lhe as liberdades individuais!
Na verdade, minha gente, a máscara do grande intelectual cai quando, no corpo do seu próprio texto, a alturas tantas, lê-se a expressão “lulo-petismo” (epíteto pejorativo, ele mesmo muitíssimo rastaquera, criado pela própria Veja para desqualificar a prática política de seus adversários). Eis o gigante revelando seus pés de barro. Mostra-se alinhado acriticamente a um dos lados da peleja.
Para um intelectual, nada pode ser mais letal do que a postura acrítica.
A luta, como já disse, é cruenta, baixa, hipócrita e suja. Quem está colocado incondicionalmente em um dos lados acaba por incorporar tais qualificativos.
Uma pena.
No próximo capítulo, analisaremos a ação parcial e manipuladora da consagrada jornalista Dora Kramer no recente episódio envolvendo o ex-presidente Lula e o Ministro do STF Gilmar Mendes.
               Aguardem.


(continua...)

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