sexta-feira, 6 de abril de 2012

Destruir é fácil. Já reconstruir...


Dia desses eu escrevi neste blog que o regime militar atrasou o amadurecimento político da população brasileira em pelo menos um século.
Fez isso pura e simplesmente alijando a população do processo político. Proibiu-a, sob pena de severas punições, de participar, de debater, de influir. Sequer votar, podia, para cargos com poder decisório. Em uma palavra, alienou-a.
Criou nela uma cultura na qual essa é a melhor atitude.
As conseqüências são as piores possíveis. O afastamento e a indiferença das pessoas geram a deterioração do ambiente político, e esta, por sua vez, as afasta ainda mais.
Hoje, com a democracia restaurada, reverter isso é uma tarefa hercúlea. Trata-se, não menos, de reconquistar corações e mentes!
E estamos apenas no início.
Pois bem. A ditadura fez ainda mais. Atrasou também, e por décadas, o próprio desenvolvimento do país, no que diz respeito à justiça social, à participação da grande maioria de sua população nos benefícios gerados pela imensa riqueza com a qual ele foi dotado.
Estou lendo, neste momento, a biografia de João Goulart, o Presidente da República que foi deposto pelos generais, auxiliados por uma elite civil retrógrada, quando do golpe que instaurou a ditadura.
Escrita pelo historiador Jorge Ferreira e publicada pela Editora Civilização Brasileira, é uma obra magnífica que busca – e consegue, brilhantemente – romper uma espécie de casulo virtual, no qual o imaginário brasileiro aprisionou o personagem, reduzindo toda sua rica trajetória ao último e triste episódio.
Fico sabendo que no dia 6 de março de 1964, 26 dias antes de sua deposição, Jango fez um discurso no qual, entre outras coisas, disse o seguinte: “A paz que nós desejamos não é apenas a que aparece nas ruas asfaltadas, mas a que leve a justiça social aos nossos caboclos do interior, que entre no lar humilde dos trabalhadores, e incorpore todo o povo à sociedade que todos nós desejamos, à sociedade cristã de um país livre e independente. (...) O que nós desejamos com essas reformas é integrar na sociedade brasileira mais de quarenta milhões de irmãos nossos, também, brasileiros, que precisam participar da vida de seu país e da riqueza nacional.”[1]
Soa familiar?
Pois é.
Isto é exatamente o que estamos todos empenhados em fazer hoje.
As maiores vitórias que o Brasil tem alcançado nos últimos anos são exatamente fazer com que um número significativo de brasileiros saiam da miséria absoluta. Ou seja, que se incorporem à sociedade, que participem da riqueza nacional.
Somos hoje respeitados, inclusive internacionalmente, em razão de estarmos conseguindo diminuir de forma visível a desigualdade social.
 De lambuja, ganhamos solidez em nossa economia, porque estamos conseguindo inserir nela grandes quantidades de pessoas.
E conseguimos atravessar razoavelmente ilesos graves crises mundiais.
No longo prazo, isso tudo vai se refletir positivamente em inúmeros setores da vida nacional. Inclusive, e principalmente, na segurança pública, tema ao qual tenho me dedicado com um pouco mais de afinco nos últimos anos.
Já pensou onde estaríamos hoje, nesse processo, se o tivéssemos iniciado quarenta anos antes, como queria Goulart?
Infelizmente, não foi possível.
A quebra do regime democrático calou a voz do povo, revigorou e manteve, com mão de ferro, as relações econômicas e sociais vigentes até então, aprofundando e alargando, de maneira inédita, o abismo de injustiça que separa os privilegiados dos oprimidos, em nosso País.
              O preço estamos todos pagando agora.


[1] O trecho está na página 411, e os grifos são meus.

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