Dia desses eu
escrevi neste blog que o regime militar atrasou o amadurecimento político da
população brasileira em pelo menos um século.
Fez isso pura
e simplesmente alijando a população do processo político. Proibiu-a, sob pena
de severas punições, de participar, de debater, de influir. Sequer votar,
podia, para cargos com poder decisório. Em uma palavra, alienou-a.
Criou nela uma
cultura na qual essa é a melhor atitude.
As conseqüências
são as piores possíveis. O afastamento e a indiferença das pessoas geram a
deterioração do ambiente político, e esta, por sua vez, as afasta ainda mais.
Hoje, com a
democracia restaurada, reverter isso é uma tarefa hercúlea. Trata-se, não
menos, de reconquistar corações e mentes!
E estamos
apenas no início.
Pois bem. A
ditadura fez ainda mais. Atrasou também, e por décadas, o próprio
desenvolvimento do país, no que diz respeito à justiça social, à participação
da grande maioria de sua população nos benefícios gerados pela imensa riqueza com
a qual ele foi dotado.
Estou lendo,
neste momento, a biografia de João Goulart, o Presidente da República que foi
deposto pelos generais, auxiliados por uma elite civil retrógrada, quando do
golpe que instaurou a ditadura.
Escrita pelo
historiador Jorge Ferreira e publicada pela Editora Civilização Brasileira, é
uma obra magnífica que busca – e consegue, brilhantemente – romper uma espécie
de casulo virtual, no qual o imaginário brasileiro aprisionou o personagem,
reduzindo toda sua rica trajetória ao último e triste episódio.
Fico sabendo
que no dia 6 de março de 1964, 26 dias antes de sua deposição, Jango fez um
discurso no qual, entre outras coisas, disse o seguinte: “A paz que nós
desejamos não é apenas a que aparece nas ruas asfaltadas, mas a que leve a
justiça social aos nossos caboclos do interior, que entre no lar humilde dos trabalhadores, e incorpore todo o povo à sociedade que
todos nós desejamos, à sociedade cristã de um país livre e independente.
(...) O que nós desejamos com essas reformas é integrar na sociedade brasileira mais de quarenta milhões de irmãos
nossos, também, brasileiros, que precisam participar da vida de seu país e da
riqueza nacional.”[1]
Soa familiar?
Pois é.
Isto é
exatamente o que estamos todos empenhados em fazer hoje.
As maiores vitórias
que o Brasil tem alcançado nos últimos anos são exatamente fazer com que um número
significativo de brasileiros saiam da miséria absoluta. Ou seja, que se
incorporem à sociedade, que participem da riqueza nacional.
Somos hoje
respeitados, inclusive internacionalmente, em razão de estarmos conseguindo
diminuir de forma visível a desigualdade social.
De lambuja, ganhamos solidez em nossa economia,
porque estamos conseguindo inserir nela grandes quantidades de pessoas.
E conseguimos
atravessar razoavelmente ilesos graves crises mundiais.
No longo
prazo, isso tudo vai se refletir positivamente em inúmeros setores da vida
nacional. Inclusive, e principalmente, na segurança pública, tema ao qual tenho
me dedicado com um pouco mais de afinco nos últimos anos.
Já pensou onde
estaríamos hoje, nesse processo, se o tivéssemos iniciado quarenta anos antes,
como queria Goulart?
Infelizmente,
não foi possível.
A quebra do
regime democrático calou a voz do povo, revigorou e manteve, com mão de ferro, as relações econômicas
e sociais vigentes até então, aprofundando e alargando, de maneira inédita, o
abismo de injustiça que separa os privilegiados dos oprimidos, em nosso País.
O preço estamos todos pagando agora.
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