quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Muitas Emoções - O desabafo.

          Bom, vamos lá.
          Duas semanas atrás um episódio de grande violência tirou a vida de três jovens, dois rapazes e uma moça.  Membros de comunidades vulneráveis, carentes de expectativas e esperanças, enredados nas franjas da marginalidade.
          Um deles, 25 anos de idade, filho único de uma das nossa heroínas Mulheres da Paz.
          Senhores, que dor imensa!
          Todo o nosso esforço é justamente enfrentar exatamente essa situação, que aterroriza todos os dias dezenas de mães, dizima famílias, destroça corações... e lá vem a realidade socar diretamente a ponta do nosso queixo.
          Na prática, a teoria é outra, diria o filósofo.
          Nunca nada foi tão difícil quanto o abraço que dei naquela mãe, naquele momento. Nada parecia suficiente diante do jorro de emoção. Ela na rua, dia após dia, propagando a cultura da paz, lutando para afastar dos lares o fantasma da violência, e então, os tiros diretamente na sua própria alma.
          Juro que aquele abraço foi o momento mais longo da minha vida. E juro também que as primeiras sensações que tive no momento, de impotência, de inutilidade do esforço, foram justamente as que me induziram a reforçar o ânimo de seguir em frente. Valerá à pena.
          E a vida seguiu.
         Sábado último assassinaram, com onze tiros, um jovem abrigado no "Protejo". Tinha 17 anos. Era pobre, era pardo e, sim, estava envolvido com o crime.
         Eu o conheci pessoalmente. Fotografei-o. Tinha um sorriso luminoso. Na ocasião, estava tendo aulas de montagem, desmontagem, formatação e programação de computadores. Já sabia fazer muito disso. Estava descobrindo um mundo novo, e mostrava cada vez mais, por atos e palavras, a pequena chama de esperança que se acendia em seu espírito. Era visível que se deslumbrava com a possibilidade que estava vislumbrando, e com a oportunidade que poderia vir a ter. Era novidade. Jamais lhe ocorrera que isso pudesse acontecer. Suspeito que sequer se julgasse digno disso, tal a lavagem cerebral da lógica da opressão.
          Quando perguntei ao grupo o que pretendiam fazer com o conhecimento que estavam adquirindo, um colega respondeu "Ganhar dinheiro, tio". E ele, sorriso aberto, fez que sim com a cabeça.
          Isto foi em início de dezembro. De lá para cá, carreguei a fotografia em meu celular como um troféu. Dar uma nova chance a essas pessoas é exatamente o conceito que tenho de prevenção em segurança pública. É o que me move. Um orgulho. Exibi para quem pude, me gabando.
          Onze tiros.
          Dizem que foi vingança. O suspeito de tê-lo matado é também jovem, pardo e homem. Dizem que meses atrás ele, agora vítima, teria matado outro menino. Pardo, pobre, etc. Um círculo infernal. Não sei. Só sei que, mais uma vez, neste caso, a chance se foi.
          E novamente, uma dor imensa. Sensação de impotência enorme.
          E, outra vez, força para persistir. Até porque isso nada mais é do que o bafo quente, úmido e malcheiroso da realidade soprando a nuca de quem sabia das coisas em teoria e agora está botando a mão na massa. E confirmando. Estatísticas são números. Frios. Mas se referem a gente. Pessoas. Quando você vai à luta, o buraco é mais embaixo. Os números ganham nomes.
          Mas que dói, gente, isso dói.
          Porque vidas são vidas.
          Foram dois jovens. Ambos inteiramente dentro das estatísticas que citei neste espaço ontem. Será, porém, que as vidas deles valem menos, só por isso?
          Nossa tendência pequeno-burguesa é a de valorizar a das pessoas mais bem aquinhoadas, quando são vítimas da violência dos "de baixo". Então, a comoção é geral. Dá-lhe mídia. Dá-lhe revolta. Dá-lhe opinião pública a clamar por endurecimento de penas, diminuição da maioridade penal, açoites em praça pública (dos "de baixo", claro, porque os "de cima" por muitas razões, ficam na flauta).
          Quando a vida perdida é daqueles, porém, parece que ela vale menos. Mas não é. O termômetro é a dor da mãe.
          "Ah, estavam envolvidos com o crime, bem-feito", diz o "cidadão de bem", do alto dos seus privilégios e da total ausência de conhecimento do que seja necessidades básicas. Trata-se de visão racista, preconceituosa, facista mesmo.
          Qual foi a alternativa que lhes demos? Qual foi a oportunidade - ou a igualdade de acesso a ela - que a sociedade "democrática" lhes ofereceu?
          Às vezes, quando se tenta, é tarde demais.
          Mas não é motivo para esmorecer.
          Há tantas outras trajetórias a resgatar,
          há tanta violência a evitar,
          tanta esperança a restaurar,
          tanta felicidade a conquistar,
          que vale à pena continuar.

          Por isso, vamos em frente.

          Um abraço.

2 comentários:

  1. Marcelo, é também com satisfação que mantenho este breve contato, mesmo que seja por esta ferramenta de comunicação moderna: o computador via internet. Li esta postagem, gostei e aproveitei em meu blog que está com uma média de acessos de mil a dois mil por dia. (jorgeyared.blogspot.com) Um forte abraço do amigo de sempre! Jorge Yared

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    1. Jorge,
      Parabéns, e obrigado.
      Meu blog tem agora duas semanas, e já chego a 34 acessos diários. Ainda chego lá, na casa dos milhares, talvez. Fico feliz por você, e agradecido0 pela divulgação.
      Grande abraço.
      Marcelo.

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