Dias atrás publiquei aqui que a luta política no Brasil está se polarizando entre esquerda e direita, de forma que parece que quem defende o mensalão aposta na CPI do Cachoeira para abafá-lo, e vice-versa.
De um lado a grande imprensa - capitaneada pela ultra-reacionária revista Veja – e outros setores que se sentem prejudicados pela tendência hoje dominante na política nacional (representada pelos governos do PT); do outro lado, os representantes exatamente desta última, auto-erigidos em defensores incondicionais, para o bem e para o mal, de tudo o que ela (a referida tendência dominante) faz.
Uma disputa maniqueísta, na qual se engalfinham “mocinhos” e “bandidos” (que trocam de lado conforme a perspectiva do observador), e que nada respeita. Utilizando-se dos expedientes mais rasteiros, os contendores – de ambos os lados – chafurdam na arena da mais rasa das políticas.
São todos virgens, vestais da pureza e da inocência, aos seus próprios olhos.
Já os adversários, verdadeiros e completos demônios.
Em mim, todas as virtudes. A ti, só o despautério!
Um verdadeiro escárnio. Um desprezo humilhante à inteligência de todos nós.
Naquela minha reflexão (veja “Meu Ponto de Vista – 7 – CPI do Cachoeira X Mensalão – Um Impasse?” do dia 06 de maio, logo aí abaixo) eu defendia que a honestidade intelectual deve ser uma obrigação de qualquer pessoa séria. Como, no espectro ideológico, filio-me aberta e orgulhosamente à esquerda, advogo irredutivelmente essa causa para ela. Isso implica em abandonar a postura hipócrita de ficar argumentando que a podridão só existe do lado de lá sabendo-se, como de fato se sabe, que ela também campeia nas bandas de cá.
E tornava pública, ali, minha posição de que toda a força deveria ser dada tanto ao julgamento do mensalão (apuração de corrupção nas hostes do governo Lula) quanto à CPI do Cachoeira (e suas implicações para vários setores hostis a esse governo).
Discordo, portanto, veementemente, dos termos da discussão atual, da forma como a descrevi aí acima. Ela é hipócrita e, pior que tudo, eleitoreira. Representa a política em seu pior viés.
Uma pena.
Para refletir sobre isso, vale a leitura da crônica de Cristóvão Tezza, anteontem, 29/05, na Gazeta do Povo. Eis o link, para quem quiser:
Em poucas palavras, o escritor põe a questão em seus verdadeiros termos. Para esses apologistas da estreiteza que dominam as páginas dos jornais de hoje, os pensamentos parecem ter de vir amarrados em pacotes. Se você acha que o mensalão deve ser julgado logo, então tem que ser contra a CPI. E se é a favor de que esta vá às últimas conseqüências, inclusive responsabilizando os jornalistas envolvidos até o pescoço, então obrigatoriamente você tem que achar que o mensalão é uma “farsa”.
Ora, senhores, um pouquinho de vergonha na cara, por favor.
(continua...)
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