domingo, 6 de maio de 2012

Meu Ponto de Vista - 7 - CPI do Cachoeira X Mensalão = Um Impasse?


O noticiário brasileiro foi tomado de assalto, nas últimas semanas, pela avalanche de informações acerca dos tentáculos da organização criminosa do bicheiro Carlinhos Cachoeira nos mundos político e empresarial.
São denúncias absolutamente estarrecedoras.
Talvez a mais impactante delas seja a que demonstra a profunda ligação do bandido com a revista Veja, o mais influente veículo semanal da grande imprensa brasileira.
Você não sabia? É provável que não. A razão é simples. Pega no contrapé, e da maneira mais vergonhosa possível, esta última tem feito o que é possível para não repercutir (e portanto abafar) o escândalo. Mas o fato é que ele é tão escabroso – ou até mais, muito mais – do que aquele envolvendo o senador Demóstenes Torres.
Apesar de parecer o contrário, o tamanho não depende da repercussão.
Aconteceu o seguinte.
Como todo mundo sabe, nos últimos anos a Veja conseguiu vários “furos” de reportagem que mostravam situações embaraçosas para inúmeros personagens da vida pública brasileira. Todos, claro, antipáticos às posições conservadoras – direitistas mesmo, em português claro – da publicação.
Com o poder da “liberdade de imprensa”, ela destruiu reputações, derrubou ministros, arruinou carreiras. Seletivamente, claro, como se verá. Atacou apenas quem lhe convinha.
Agora, a Polícia Federal revelou que todos os “furos” se originaram de informações privilegiadas que o Cachoeira passava a um editor da Veja, Policarpo Junior, por meio de mais de 300 telefonemas que trocaram.
Algumas peculiaridades merecem nota.
Primeira: todos os atingidos eram desafetos comuns do bandido e da revista. Ou seja, aquele se utilizava desta para remover obstáculos que encontrava no caminho de suas falcatruas; e esta gostosamente se prestava ao papel; segunda: com enorme frequência, as informações repassadas pelo bicheiro à Veja eram obtidas de forma clandestina, ilegal (há algum bandido que se preocupe com esse tipo de formalidade?); terceira: o editor Policarpo sabia perfeitamente bem disso, e jamais se importou; típica atitude de “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”: a revista, posando de guardiã da moralidade, metralhou dezenas de pessoas por cometerem ilegalidades, ao mesmo tempo em que, para se beneficiar duplamente (aumentando a circulação e alvejando inimigos) chafurdava ela própria na mais abjeta delas.
A quarta e mais relevante é a que mostra os dois pesos e duas medidas.
Algum de vocês prestou atenção na cobertura que a Veja está dando ao escândalo Demóstenes/Cachoeira? Ou à posição dela em relação à CPI que vai esmiuçar tudo isso, e que simplesmente, como eu disse, tomou conta do País?
Pois é.
Pois ééééé´.......
A cobertura é praticamente zero. (Musiquinha: "o escândalo passou na janela e só a Veja não viu, laialaiá...")
Não deu nenhuma capa. As últimas, aliás, falavam de internet, de artes marciais, do santo sudário, e por aí afora.
As matérias a respeito, relegadas às páginas do mais secundário dos miolos, foram curtíssimas, e tiveram a contundência de um sabiá cantando no pomar. O Demóstenes, coitado, parecia um pobre menino travesso apanhado numa estripulia inocente. Merecia, talvez, no máximo um cascudo. Ou ficar de joelho no milho por uma meia hora. E olhe lá. Afinal, companheiros de Cachoeira devem se apoiar mutuamente, não é mesmo?
E quando finalmente a revista resolveu tomar uma posição, aí é que o caldo entornou de vez. Decidiu ficar contra a CPI. Na minha opinião, isso colocou um cheiro de “omertá” no ar.
(Sabe o que é “omertá”? É a lei de honra dos mafiosos, pela qual um protege o outro...).
Aí, então, o escândalo mereceu a capa do semanário.
E foi para dizer que a CPI nada mais era do que uma cortina de fumaça armada pelo PT para desviar a atenção do País do escândalo do mensalão.
Pode isso?
Pelo jeito pode, porque a barbaridade passou batida. Pouca gente protestou.
Alguns míseros blogs, todos de pouco alcance – como este humilíssimo que só pensa em voz baixa, a seu dispor – estão tentando mostrá-la (destaque especial para o do Luiz Nassif – www.advivo.com.br), mas a verdade é que a sociedade brasileira como um todo nem se deu conta, graças ao poder de fogo (ou, no caso, de apagar o fogo) da nossa imprensa, no uso viciado e seletivo que faz da sua “liberdade de expressão”.
Minha gente, tem uma coisa engasgada na minha garganta, que eu preciso dizer aqui.
Este episódio todo gerou uma discussão falsa.
De um lado, a Veja e todos os seus asseclas querem o julgamento do chamado mensalão (o escândalo, no Governo Lula, em que se acusa um grupo comandado pelo ex-ministro José Dirceu de utilizar dinheiro público para comprar votos no Congresso Nacional). Seu objetivo é ganhar politicamente para a direita, fulminando aqueles que julgam serem seus inimigos.
Ao mesmo tempo, buscam se proteger, utilizando artilharia pesadíssima contra a CPI do Cachoeira que, se não se cuidarem, pode expor seus podres mais profundos à luz do sol.
Atentem para a fragilidade do argumento acima. O mensalão está no STF, Poder Judiciário. A CPI, no Congresso, Legislativo. A Constituição garante a separação dos Poderes. Como é que pensa a Veja que um pode atrapalhar o outro?
Do outro lado, o PT, insistindo que o mensalão nunca existiu, e que não passa de uma farsa armada pela direita para sabotar seu governo.
Fala tanto, e de tal jeito, que quase parece que quer dar razão aos seus inimigos.
Em suma: a esquerda quer a CPI do Cachoeira para atacar a direita, e não quer o julgamento do mensalão, porque pode ser atingida com ele.
E a direita quer exatamente o contrário.
Pois eu digo que esta é que é a discussão falsa.
Primeiro porque corrupção não tem lado. Corrupção é corrupção e pronto. À esquerda ou à direita, deve ser igualmente repudiada, condenada e severamente punida. Não pode haver panos quentes.
Ninguém é ligeiramente corrupto. Ninguém é mais ou menos corrupto conforme esteja ou não do meu lado na luta política.
O nome disso é hipocrisia. Falta de honestidade intelectual. E o Brasil está farto disso, minha gente.
Chega!
E segundo, porque – ninguém se iluda – uma CPI como essa que está aí todos sabem como começa, mas ninguém, absolutamente ninguém, pode prever como termina.
Do jeito que vai, pode não sobrar pedra sobre pedra tanto à direita como à esquerda.
Todos os meus leitores – sei que são poucos, mas sei que estão por aí – já sabem que eu me filio a esta última. Nunca tive medo ou vergonha de dizer. Milito na esquerda desde a juventude, porque entendo a igualdade, a justiça e a fraternidade como absolutamente necessárias à felicidade de todos os seres humanos. Não consigo conceber uma pessoa feliz enquanto consciente da miséria de seus irmãos.
É justamente por isso, inclusive, que tenho para mim como dever indeclinável, para comigo mesmo, a honestidade intelectual. A direita pode se dar ao luxo de ser hipócrita. Afinal, conviver com o errado sem conflitos pessoais é da essência de sua filosofia de vida.
Mas a esquerda não.
Então, já está mais do que na hora, já passou da hora, aliás, de que ela pare de iludir a si própria e aos outros com a mentira de que a corrupção só campeia em solo alheio.
Quanto mais não seja para que, quando algum de nós for acusado, termos que ficar ao lado da apuração mais rigorosa e imparcial, até mesmo para demonstrar a respectiva inocência.
E quando isso não ocorrer, cabe-nos o exemplo. E cortar na própria carne, porque honestidade não existe pela metade.
Tudo isso, minha gente, para extravasar o que está entalado na minha garganta:
O caso Cachoeira não interfere no mensalão, e o mensalão não interfere no caso Cachoeira, salvo na circunstância de que são, ambos, galhos de uma mesma árvore, qual seja a podridão que grassa nos subterrâneos da política brasileira.
É preciso, sim, julgar o mensalão, com todo o rigor, e na forma da lei.  Isto quer dizer, um julgamento justo, com amplo direito à defesa e ao contraditório. O nosso Supremo Tribunal Federal tem dado inúmeras provas, cabais e irrefutáveis, de que está à altura plena do momento histórico que estamos vivendo. Se não tiver ocorrido o escândalo, como esbravejam os petistas, a Corte Maior o declarará sem embargo; mas se for o contrário, ela também o fará, e, neste caso, que os culpados sejam apontados e exemplarmente punidos.
E é preciso, por outro lado, que a CPI do Cachoeira traga ao conhecimento da sociedade todo o esquema criminoso armado pelo empresário-bandido, doa a quem doer, sejam políticos, empresários, criminosos, e, também, evidentemente, a mídia.
Vai ser preciso, enfim, criar a coragem para enfrentar aqueles que se julgam acima da lei. De uma vez por todas, é preciso que a parte peçonhenta da grande imprensa brasileira, personificada de forma exemplar por essa vergonha que é a revista Veja, seja colocada no banco dos réus, e julgada como deve ser. Também com todo o rigor e na forma da lei, com defesa e contraditório.
Basta, porém, de sermos todos, neste Brasil, reféns de um pequeno grupo de empresários inescrupulosos, que nos manipulam como bem entendem, sempre em benefício dos seus próprios interesses e dos de uma pequena minoria.
Ambos os procedimentos, Cachoeira e mensalão, que de modo algum são mutuamente excludentes, (antes pelo contrário), se corretamente levados a cabo, só vão contribuir para o aperfeiçoamento da democracia brasileira.
Quanto mais, e quanto mais vezes, a corrupção for trazida à luz, mais se abalará a crônica impunidade que grassa em nossa vida política, e mais se saneará todo o ambiente em que ela se desenvolve.
Como sempre digo, este é o único e o melhor remédio. Nada de panos quentes.
Vamos expor todos os carnegões (lembram do carnegão, o núcleo do furúnculo? Já falei dele, aqui no blog, aprendi com minha avó). É sofrido, mas é o caminho da cura da infecção.
E a cada furúnculo eliminado estaremos mais próximos da saúde do corpo como um todo.
Jogar a sujeira para debaixo do tapete, seja de que lado for, pode interessar a alguns, mas de modo algum interessa à sociedade brasileira.
Portanto, mãos à obra. Força ao julgamento do mensalão e à CPI do Cachoeira!

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