domingo, 4 de maio de 2014

O Brasil, o Mundo e a Visão Embaçada

A crise europeia continua grassando. O mais recente de seus desdobramentos é o despejo em massa de famílias, de suas casas.
As informações a seguir estão na revista Caros Amigos deste mês, com remissão às respectivas fontes.
Segundo a Fundação Abbé Pierre (http://www.fondation-abbe-pierre.fr/) 130.000 mil pessoas vivem nas ruas de Paris, e 3.600.000 outras vivem, também na capital francesa, mal instaladas em moradias precárias ou insalubres. Da mesma fonte vem a informação de que o número de desalojados por inadimplência subiu muito em 10 anos (81.000 pessoas em 2001 contra 115.000 em 2012) e que o de expulsos de suas casas pela polícia dobrou (6.000 em 2001 para 13.000 em 2012) no mesmo período.
Já a ONG Droit Au Logement (droitaulogement.org), cujo objetivo é realocar essas pessoas, informa que os desabrigados são majoritariamente estrangeiros pobres, mas está subindo constantemente o número de integrantes da própria classe média francesa que a procuram porque estão perdendo suas casas.
Isso na Europa do Primeiríssimo Mundo.
Enquanto lá, modelo da gestão do “pensamento único”, economia “moderna” (quer dizer, neoliberal), a preocupação habitacional já está se ampliando para além dos pobres, atingindo a classe média, aqui no nosso quintalzinho tupiniquim, com gestão “atrasada”, “equivocada”, etc., percorre-se caminho inverso.
No Brasil, pela primeira vez em sua história, o pobre está tendo acesso a esse bem fundamental.
Milhões de famílias que jamais poderiam sequer sonhar com a ideia da casa própria estão recebendo suas chaves todos os dias.
Pronto. Eis, de forma simples e até simplória, mais uma diferença fundamental entre os que querem governar rebaixando o salário mínimo, tomando medidas “impopulares” (contra o povo, os pobres), e vendendo o patrimônio nacional em nome de uma “eficiência” que nunca vem, e um projeto que prioriza e beneficia quem mais precisa sem abrir mão do pleno emprego, do crescimento sustentável, da melhoria da qualidade de vida de todos.
Para a crise da Europa adotaram-se as chamadas medidas ortodoxas ditadas pelo FMI e pelas grandes economias (e que nada mais são do que as famigeradas “medidas impopulares” já anunciadas pelos nossos neoliberais que querem trazer de volta o passado travestido de futuro). O filme, que já vimos, lá como aqui leva sempre ao mesmo final, até porque, como sempre tenho dito, não se podem esperar resultados diferentes para as mesmas atitudes. Desemprego altíssimo, explosão dos preços de produtos básicos, perda de poder aquisitivo, etc. Tudo para quem? Claro, para os trabalhadores, para os mais pobres. Chega-se até as classes médias, como visto. Todos estes empobrecem. Os ricos? Os privilegiados? Não, estes são sempre inatingíveis.
Portugal, Espanha, Grécia e Itália já sucumbiram. Agora parece que a bola da vez é a França.
E nós aqui, com desemprego baixíssimo, inflação controlada, salário valorizado, milhões que nunca tiveram acesso a um médico sendo atendidos, centenas de milhares de jovens carentes indo estudar no exterior, milhões deles tendo pela primeira vez acesso a ensino profissionalizante e ensino superior, milhões de famílias pobres acessando moradia própria, e a economia crescendo (abaixo do necessário, mas crescendo), é que somos os bobalhões, pra essa gente vesga que se sujeita a lavagens cerebrais diárias.
Na Europa camadas cada vez mais altas estão sendo rebaixadas à pobreza e à
 miséria, enquanto aqui dezenas de milhões fazem o caminho inverso. E nós é que somos os bobalhões.
Tem ainda coisas erradas, é verdade. Acho, por exemplo que tivemos um retrocesso inexplicável, nos últimos anos, na segurança pública. É a minha área, e uma das mais sensíveis questões a afligir os brasileiros. Trata-se de tema que exige decisões estruturais profundas, dependentes de uma vontade política forte para enfrentar lobbys e problemas seculares. Sem isso a situação só faz piorar, abrindo um evidente flanco de vulnerabilidade a todo o conjunto de políticas públicas inclusivas que tanto tem beneficiado o País na última década.
Vejo, portanto, que é necessário batalhar pelo avanço real nessa área. Assim como também na da reforma política, sem a qual esse sistema representativo esquizofrênico, que nos brinda com um regime presidencialista e uma constituição parlamentarista, que distorce a representação por critérios de curral implantados na época da ditadura, e que faz qualquer governo depender de alianças espúrias para implementar minimamente sua agenda, permanecerá intocado e atrasando nossa evolução.
Carecemos ainda de uma profunda reforma tributária, mas tenho certeza de que esta só poderá entrar em debate após a anterior.
Há o que mudar, sem dúvida. Há o que consertar. Há o que melhorar. No entanto, com certeza absoluta, não é o foco. Este está provado que está correto.

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