A crise europeia continua grassando. O mais recente de seus
desdobramentos é o despejo em massa de famílias, de suas casas.
As informações a seguir estão na revista Caros Amigos deste
mês, com remissão às respectivas fontes.
Segundo a Fundação Abbé Pierre (http://www.fondation-abbe-pierre.fr/)
130.000 mil pessoas vivem nas ruas de Paris, e 3.600.000 outras vivem, também na
capital francesa, mal instaladas em moradias precárias ou insalubres. Da mesma
fonte vem a informação de que o número de desalojados por inadimplência subiu
muito em 10 anos (81.000 pessoas em 2001 contra 115.000 em 2012) e que o de
expulsos de suas casas pela polícia dobrou (6.000 em 2001 para 13.000 em 2012)
no mesmo período.
Já a ONG Droit Au Logement (droitaulogement.org), cujo
objetivo é realocar essas pessoas, informa que os desabrigados são
majoritariamente estrangeiros pobres, mas está subindo constantemente o número
de integrantes da própria classe média francesa que a procuram porque estão
perdendo suas casas.
Isso na Europa do Primeiríssimo Mundo.
Enquanto lá, modelo da gestão do “pensamento único”,
economia “moderna” (quer dizer, neoliberal), a preocupação habitacional já está
se ampliando para além dos pobres, atingindo a classe média, aqui no nosso
quintalzinho tupiniquim, com gestão “atrasada”, “equivocada”, etc., percorre-se
caminho inverso.
No Brasil, pela primeira vez em sua história, o pobre está
tendo acesso a esse bem fundamental.
Milhões de famílias que jamais poderiam sequer sonhar com a
ideia da casa própria estão recebendo suas chaves todos os dias.
Pronto. Eis, de forma simples e até simplória, mais uma
diferença fundamental entre os que querem governar rebaixando o salário mínimo,
tomando medidas “impopulares” (contra o povo, os pobres), e vendendo o
patrimônio nacional em nome de uma “eficiência” que nunca vem, e um projeto que
prioriza e beneficia quem mais precisa sem abrir mão do pleno emprego, do
crescimento sustentável, da melhoria da qualidade de vida de todos.
Para a crise da Europa adotaram-se as chamadas medidas
ortodoxas ditadas pelo FMI e pelas grandes economias (e que nada mais são do
que as famigeradas “medidas impopulares” já anunciadas pelos nossos neoliberais
que querem trazer de volta o passado travestido de futuro). O filme, que já
vimos, lá como aqui leva sempre ao mesmo final, até porque, como sempre tenho
dito, não se podem esperar resultados diferentes para as mesmas atitudes.
Desemprego altíssimo, explosão dos preços de produtos básicos, perda de poder
aquisitivo, etc. Tudo para quem? Claro, para os trabalhadores, para os mais
pobres. Chega-se até as classes médias, como visto. Todos estes empobrecem. Os
ricos? Os privilegiados? Não, estes são sempre inatingíveis.
Portugal, Espanha, Grécia e Itália já sucumbiram. Agora
parece que a bola da vez é a França.
E nós aqui, com desemprego baixíssimo, inflação controlada, salário
valorizado, milhões que nunca tiveram acesso a um médico sendo atendidos, centenas
de milhares de jovens carentes indo estudar no exterior, milhões deles tendo
pela primeira vez acesso a ensino profissionalizante e ensino superior, milhões
de famílias pobres acessando moradia própria, e a economia crescendo (abaixo do
necessário, mas crescendo), é que somos os bobalhões, pra essa gente vesga que
se sujeita a lavagens cerebrais diárias.
Na Europa camadas cada vez mais altas estão sendo rebaixadas
à pobreza e à
miséria, enquanto aqui dezenas de milhões fazem o caminho inverso. E nós é que somos os bobalhões.
miséria, enquanto aqui dezenas de milhões fazem o caminho inverso. E nós é que somos os bobalhões.
Tem ainda coisas erradas, é verdade. Acho, por exemplo que
tivemos um retrocesso inexplicável, nos últimos anos, na segurança pública. É a
minha área, e uma das mais sensíveis questões a afligir os brasileiros.
Trata-se de tema que exige decisões estruturais profundas, dependentes de uma
vontade política forte para enfrentar lobbys e problemas seculares. Sem isso a
situação só faz piorar, abrindo um evidente flanco de vulnerabilidade a todo o
conjunto de políticas públicas inclusivas que tanto tem beneficiado o País na
última década.
Vejo, portanto, que é necessário batalhar pelo avanço real
nessa área. Assim como também na da reforma política, sem a qual esse sistema
representativo esquizofrênico, que nos brinda com um regime presidencialista e
uma constituição parlamentarista, que distorce a representação por critérios de
curral implantados na época da ditadura, e que faz qualquer governo depender de
alianças espúrias para implementar minimamente sua agenda, permanecerá intocado e atrasando nossa evolução.
Carecemos ainda de uma profunda reforma tributária, mas
tenho certeza de que esta só poderá entrar em debate após a anterior.
Há o que mudar, sem dúvida. Há o que consertar.
Há o que melhorar. No entanto, com certeza absoluta, não é o foco. Este está
provado que está correto.
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