quarta-feira, 6 de março de 2013

Verdades


Com autorização de seu autor, publico abaixo comentário de Luciano Faucz de Lacerda, meu colega de trabalho de 2009 a 20012, quando foi coordenador executivo do Gabinete de Gestão Integrada de São José dos Pinhais, a respeito de artigo do Fábio Campana. É extremamente bem escrito e objetivo. E um soco no estômago dos que tentam simplificar um tema que é extremamente complexo. Quando fazem isso, manipulam as mentes e consciências de seus leitores, desviando o foco da discussão.

Merece a leitura.

           

"artigo publicado no fabio campana...

http://www.fabiocampana.com.br/2013/03/pesquisa-aponta-que-pobreza-e-criminalidade-estao-dissociados/#more-191095

meus comentarios...

Curioso como os estudos que tentam dissociar os índices de homicídio (ou violência) de causas sociais enfatizam a relação com o tráfico de drogas e a impunidade. Causa social não é a mesma coisa que miséria ou pobreza em si. Causas sociais são estruturas muito mais complexas impostas às pessoas,  estruturas estas que podem impedir, dificultar ou facilitar seu desenvolvimento humano, condicionar suas escolhas e moldar seu comportamento. A associação com o tráfico não é uma escolha no sentido liberal da palavra, em que autonomanente o indivídiuo, livre de pressões, escolhe ir para a direita ou a esquerda, ou ainda permanecer parado, se for o caso. Muito pelo contrário, a associação com o tráfico é uma imposição das circunstâncias, uma alternativa (?) diante do fracasso de um enquadramento "normal", do sucesso escolar e profissional, da família bem estabelecida, dos valores bem assimilados de uma sociedade hedonista que estimula o consumo exarcebado e a busca incessante por prazer e felicidade.

Diz o texto:

"Os fatores que contribuem para o aumento da violência e, consequentemente, para a elevação da taxa de homicídios, mencionados na pesquisa de Sapori, são a consolidação do tráfico de drogas, principalmente o consumo de drogas, os elevados níveis de impunidade e a necessidade de adoção de medidas mais eficientes para combater os dois aspectos anteriores."


Ao correlacionar a consolidação do tráfico de drogas, principalmente o consumo (sic), com medidas mais eficientes para combater estes dois aspectos, o autor do texto (não sei se os autores da pesquisa corroboram esta tese) parece pensar que punir traficantes e usuários é a melhor medida diante dos horrores estatísticos que vivemos na segurança pública. Nada mais equivocado do que esta conclusão. Cem anos desta política puramente repressiva e punitiva nos trouxeram exatamente a esta realidade.

Quando teremos jornalistas comprometidos efetivamente com a mudança deste quadro? Quando estes "mordomos de luxo" da classe dominante conseguirão enxergar além da ideologia de seus patrões e propor efetivamente uma nova abordagem do assunto, que trate a questão da violência com a complexidade que é necessária?

Não podemos ingenuamente associar a miséria e a pobreza ao ato criminoso em si, mas também não podemos desconsiderar os 500 anos de história excludente e de injustiças deste país na avaliação do nosso presente.

A pergunta ainda fica: por que majoritariamente os personagens principais deste drama (cerca de 40 mil homicidios por ano neste país) continuam sendo jovens, negros ou pardos, moradores de áreas periféricas e  dasassistidas?

O garoto branco, piá pansudo de prédio, que fuma inocentemente seu baseadinho, parece estar fora destas estatísticas...que coincidência, não?"

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